O jornalista e analista moçambicano Fernando Lima defende que a morte de Afonso Dhlakama atrasou as negociações de paz entre a Renamo e Governo, considerando que o antigo líder do principal partido da oposição faz falta no panorama político.
Um ano após a sua morte, "Afonso Dhlakama faz falta ao processo negocial e faz falta à Renamo", disse o analista, considerando que tal se reflete "nos atrasos que o próprio processo negocial tem registado".
Para Lima, numa primeira fase após a morte de Dhlakama, foi difícil para o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, negociar com a Renamo, que teve de se restruturar "por completo" com a ascensão de um novo líder.
"Há toda uma estrutura nova que está a ser moldada no partido e isso leva tempo. Isso tem implicações internas", acrescentou o jornalista moçambicano, observando que a "tradição autocrata" que o principal partido de oposição tem dificulta ainda mais os processos de transição.
Embora considere a Renamo como uma alternativa após a morte do líder do partido, Lima afirma que o falecimento do antigo líder do principal partido de oposição fragilizou aquela força política.
"Com Dhlakama, a Renamo era uma melhor alternativa porque a máquina estava muito mais bem sincronizada. Mas o partido continua uma alternativa, basta olhar para a sua força parlamentar", afirmou Fernando Lima.
O atual processo negocial entre o Governo moçambicano e a Renamo arrancou no dia 06 de agosto de 2017, quando Filipe Nyusi se deslocou à Gorongosa, para uma reunião com Afonso Dhlakama.
Após a morte de Dhlakama, as negociações continuaram e o Governo e a Renamo acabaram assinando um memorando em agosto de 2018, um documento que prevê a integração no exército e na polícia de antigos guerrilheiros da maior força de oposição em Moçambique, um processo que já começou.
O documento, assinado entre Filipe Nyusi e o atual líder da Renamo, Ossufo Momade, distribui diversos cargos militares entre a Renamo e o Governo e, ao nível do Estado-Maior General das Forças Armadas, prevê que, de um total de nove departamentos, três sejam entregues a homens do partido da oposição, o que já aconteceu.
Além do desarmamento e da integração dos homens do braço armado do maior partido da oposição nas Forças Armadas, a agenda negocial entre as duas partes envolvia a descentralização do poder, ponto que já foi ultrapassado com a revisão da Constituição, em julho.
Afonso Dhlakama morreu a 03 de maio do ano passado devido a complicações de saúde.
LUSA – 03.05.2019