EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República(155)
Bom dia Presidente. Presumo que o senhor leia qualquer coisa de útil. Nesse contexto há-de ter lido que Júlio César, o imperador romano, divorciou-se da sua esposa Pompeia por suspeita de que ela era adúltera. Mesmo não tendo comprovado a sua suspeita, mandou-a às favas e pronunciou a célebre frase: "A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta". Por analogia, uso isto para o meu Presidente: não basta ser honesto, deve parecer honesto! Ainda não está claro para ninguém-talvez para a Frelimo-que o senhor não está implicado no vergonhoso calote de dois mil milhões de meticais que deixou a economia moçambicana de rastos.
Quer dizer, temos um candidato à Presidência da República cuja conduta é dúbia, e o mesmo propala a quatro ventos que com ele Moçambique está em boas mãos. Isto é tragicómico. É surreal. Este assunto devia ter sido clarificado atempadamente. Eu, por exemplo, faria muito gosto em saber que o meu Presidente é impoluto. Mas da maneira como estão as coisas, sentencio: não tenho Presidente!
É que o provável envolvimento nas dívidas ocultas de um Presidente da República que é, ainda mais, forte candidato à ganhar a eleição de Outubro, hipoteca o sonho dos moçambicanos. Isto terá implicações graves. Esse Presidente não será capaz de negociar em pé de igualdade com as grandes potências, principalmente agora que se abre um novo capítulo económico moçambicano, refiro-me aos investimentos no sector do gás natural.
Será o Presidente a negociar tudo. Como pode dizer não a quem conhece o seu segredo e pode, querendo, expeli-lo a qualquer momento? Em nome de querer salvar a sua pele e da súcia dos camaradas, pode entregar o nosso gás gratuitamente. Pode entregar qualquer riqueza nossa aos americanos. Isto é máfia siciliana. Somos governados pela máfia. Indivíduos menos impolutos é que assumem os destinos do País.
Por que o Presidente não dissipou, atempadamente, as dúvidas relacionadas com os seu possível envolvimento no calote? Num País sério, em que realmente há eleitores, o Presidente não ganhava a próxima corrida eleitoral. Nem que fosse a um curandeiro. Há-de ganhar aqui que só há votantes. Pessoas que nem sabem porquê votam. Fazem-no porque está na moda. Para exibirem o dedo em riste no Facebook acompanhado com aquela odiosa legenda: "Eu já votei". Cáspite!
Eu tenho dúvidas em perceber que razões levaram a Frelimo a renovar a confiança em Ny usi como candidato presidencial às eleições de Outubro. É que não vejo, até hoje, onde é que o Presidente acertou. Vejo, volvidos quase cinco anos, um Presidente ainda perplexo. A reger uma orquestra desafinada. Dossier paz está intragável. Violência em Cabo Delgado mostra o quão se pode ser incompetente. Dívidas ocultas, seria redundante se voltasse a isto ainda nesta carta. E temos a Comissão Política que só sabe saudar o Presidente mesmo quando oferece um barco numa povoação recôndita. Quem disse que o chefe deve oferecer barcos? Não se problematiza nada. Não se discute. Emite-se comunicados insípidos.
Moçambique, tu estás condenado à pobreza!
DN – 21.06.2019