A incursão teria ocorrido na passada quarta-feira, numa aldeia do distrito de Nangade, contra forças de defesa e segurança, de onde teriam perdido a vida 11 pessoas, entre elas, civis. Os jihadistas reclamam ainda roubo de armas e de munições, na mesma semana que Portugal e Estados Unidos estiveram à fala precisamente sobre o tema
A conjuntura de insegurança no norte de Moçambique foi motivo, na semana passada, em Lisboa, de um encontro entre o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e o secretário norte-americano adjunto para Assuntos Africanos, Tibor Nagy, a pedido da Casa Branca.
Em cima da mesa, o islamismo radical praticado na província moçambicana de Cabo Delgado, com o chefe da diplomacia portuguesa a explicar tratar-se de um fenómeno complexo “ainda em fase embrionária” ao qual “devemos responder para que possa ser contido agora”, Augusto Santos Silva citado pela Lusa.
Santos Silva diz haver coincidência entre a informação fornecida pelas autoridades moçambicanas, a que está na posse dos portugueses e a detida pelos Estados Unidos da América, concluindo ser “preciso ter muita atenção”.
Ainda na semana, Maputo anunciou o mapeamento das congregações religiosas, supostamente a pedida da secreta moçambicana.
Esta semana deve desembarcar na capital moçambicana, o secretário- -geral das Nações Unidas, António Guterres, agenda que tem sido visto pelas autoridades portuguesas, importante no quadro das crescentes preocupações com o que se passa em Cabo Delgado.
De igual modo, Santos Silva vê com bons olhos a visita, em setembro, de Papa Francisco a Moçambique, ainda no âmbito do quadro negro no norte do país.
Quando, em outubro de 2017, um grupo armado com armas de fogo e de instrumentos contundentes, ocupou momentaneamente a vila municipal de Mocímboa da Praia, apanhando de surpresa tudo e todos, a mensagem na altura avançada pelos invasores à pacata cidade, era de implementação do islão radical.
Durante largo período, os moçambicanos assumiram a ideia de que os jihadistas estavam a dar os primeiros passos em Moçambique, tendo como porta de entrada, a província de Cabo Delgado. As mesquitas em Pemba e nos distritos da província foram vasculhadas a pente-fino, tendo muitas delas encerradas. Até que, regressado do estrangeiro, o presidente Filipe Nyusi começou a abandonar o discurso de que a situação na província tem mão muçulmana, o mesmo posicionamento assumido pelo tribunal que julgou centenas de arguidos no caso. O juíz, de resto, no início da primeira sessão, tratou de avisar que embora alguns dos arguidos tenham sido detidos em mesquitas, isso não significa forçosamente que a comunidade muçulmana esteja por detrás deste estado de coisas.
Os próprios líderes muçulmanas se têm desdobrado em iniciativas que visam o distanciamento do que se está a passar na província mais a norte de Moçambique.
Porém, pela segunda vez, o Estado Islâmico (EI) aparece a reivindicar ataque contra as forças de defesa e segurança numa aldeia do distrito de Nangade, em Cabo Delgado. A FP, citada pela DW África, afirma que os supostos jihadistas, do ataque, morreram 11 pessoas, entre elas, civis e militares, tendo se apoderado de armas e de munições, enquanto outros tantos militares empreendiam fuga.
Para o chefe da diplomacia portuguesa, a forma de dar resposta a esta situação “é apoiando as autoridades moçambicanas”, até porque a paz efectiva e definitiva no país se encontra na sua “última milha”, ele, referindo-se ao DDR. Augusto Santos Silva não podia ser mais esclarecido: “quando falamos na progressão das correntes fundamentalistas e de natureza terrorista que se reclamam de uma visão radical do islão, evidentemente que o norte de Moçambique vem, como várias outras regiões de África, à memória”. “Foi nesse duplo aspecto que nós abordámos Moçambique, sendo certo que abordar Moçambique com qualquer país hoje significa da nossa parte comunicar a esse país que excelentes resultados foram produzidos na cimeira entre Portugal e Moçambique, quão bem-sucedida foi a visita de Estado do presidente Nyusi, e quão desenvolvidas estão as relações bilaterais”.
Curiosamente, Filipe Nyusi voltou a recuperar a designação ‘insurgentes’ ao se referir aos que andam a protagonizar ataques em Cabo Delgado, depois de, no dia da Independência Nacional, ter anunciado estar-se diante de terroristas. À pergunta da Catarina Esteves, o presidente tratou tais grupos de insurgentes, como até antes do 25 de junho de 2019.
EXPRESSO – 08.07.2019