LIVRO SOBRE PADRE MATEUS PINHO GWENJERE
A Biografia há muito Esperada
Será lançado, próximo mês, na Beira e depois em Maputo o livro “Mateus Pinho Gwenjere: Um Padre Revolucionário”. Lawe Laweki, autor da obra, conheceu o Padre Mateus Pinho Gwenjere em 1964, quando estudava no Seminário de Zóbuè em Moçambique. Vários anos mais tarde, veio a encontrá-lo em Dar es Salaam, na Tanzânia, e em Nairobi, no Quénia, onde ambos viveram exilados.
A obra retrata a história da vida deste padre católico do centro de Moçambique que se juntou ao movimento de libertação, FRELIMO, na Tanzânia em 1967. Confrontado com a realidade dentro do movimento, em pouco tempo colidiu com a direcção da FRELIMO. Pouco depois da independência em 1975, foi sequestrado de Nairobi, no Quénia, onde vivia exilado, e sumariamente executado pelo governo da FRELIMO.
O livro foi escrito em inglês e traduzido para português. Numa visão geral, a ediçao portuguesa do livro destaca, na secção I, as origens do Padre Mateus Gwenjere. O autor dá a conhecer as forças que moldaram a vida de Mateus Gwenjere ao longo do Vale do Rio Zambeze, proporcionando uma visão clara da sua árvore genealógica, do início da sua vida e da sua educação missionária. Esta parte centra-se igualmente na sua vida educacional e cristã no Seminário Menor de São João de Brito de Zóbuè, na Província de Tete, e no Seminário Maior de Namaacha, no sul de Moçambique.
Na secção II, o autor aborda o pensamento religioso do Padre Mateus Gwenjere, em particular o seu conceito de uma Igreja Católica dividida em Moçambique durante o período colonial português. Concorrendo com o Padre Gwenjere sobre a existência de uma Igreja Católica dividida em Moçambique está o conhecido escritor português Luís Salgado de Matos. De acordo com o Padre Gwenjere, a Igreja Católica em Moçambique estava dividida: A Igreja Católica “Salazarista”, liderada pelo Cardeal-Arcebispo Teodósio Clemente de Gouveia da Arquidiocese de Lourenço Marques e o seu sucessor Dom Custódio Alvim Pereira, defendia os interesses do regime colonial português, enquanto que a Igreja Católica (“Profética”), liderada pelo Bispo da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende, e, depois dele, pelo Bispo de Nampula Dom Manuel Vieira Pinto, defendia os direitos do povo moçambicano à autodeterminação. “A Igreja não pode só ter preocupações místicas, deve também preocupar-se com os problemas sociais... Os missionários portugueses estão a prejudicar o Cristianismo ao não cumprirem a missão que lhes foi confiada pela Igreja”, disse o Padre Gwenjere no seu testemunho nas Nações Unidas em Nova Iorque em 1967.
Na secção III, o autor detalha as actividades do Padre Mateus Gwenjere durante os três anos que esteve como sacerdote na Missão Católica de Nossa Senhora de Fátima de Murraça: as suas actividades em defesa dos direitos das pessoas, da sua cultura e da sua língua; a mobilização de africanos para desobediência civil, nomeadamente a exortação de pessoas a recusarem-se a cultivar o algodão e a serem removidas à força das suas terras de origem; o recrutamento e o envio à Tanzânia de jovens moçambicanos para se juntarem ao movimento de libertação da FRELIMO; a sua perseguição pela PIDE; bem como a sua fuga de Moçambique para a Tanzânia para se juntar ao movimento.
Na secção IV, retrata as actividades do Padre Gwenjere no movimento da FRELIMO: o seu testemunho na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque em Novembro de 1967, em que denunciou as injustiças e a opressão do regime colonial português; a sua luta pela realização de reformas na FRELIMO assim como a sua colisão com a direcção da FRELIMO após ser confrontado com a realidade dentro do movimento. O Segundo Congresso da FRELIMO que estava agendado para 1965, só viria a ser realizado em Julho de 1968 por insistência do Padre Gwenjere. Esta secção retrata ainda as suas actividades fora do movimento da FRELIMO; o seu sequestro de Nairobi, Quénia; e a sua execução pelo governo da FRELIMO.
Na secção V, o autor chama a atenção para a tradição de conflitos internos dentro do movimento da FRELIMO, argumentando que tais conflitos eram predominantemente regionais, embora exacerbados por lutas pelo poder político. A elite política moçambicana foi a força motriz por trás da exacerbação destes conflitos, usando-os como alavancas para mobilizar apoios na busca do poder.
No fim, o autor apela para o sarar de feridas e para uma genuína reconciliação entre a família moçambicana. Já passa quase meio século desde que o Padre Mateus Pinho Gwenjere e muitos outros líderes nacionalistas, incluindo o Reverendo Uria Simango, Paulo Gumane, Adelino Gwambe, Lázaro Nkavandame, Casal Ribeiro, e Dra. Joana Simeão, foram mortos pelo governo da FRELIMO, sem que os seus familiares e o povo moçambicano saibam onde se encontram os seus restos mortais.
Muitos países africanos, incluindo a Serra Leoa, Libéria, Gana e Ruanda, estiveram envolvidos em processos de reconciliação. No caso de Moçambique, desde independência, nunca houve um verdadeiro esforço da parte do governo da FRELIMO para estabelecer uma reconciliação genuína.
A África do Sul, um país vizinho, com a sua Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC), é vista como um modelo para as sociedades que desejam viver em paz. Uma reconciliação genuína em Moçambique começaria com o reconhecimento pelo governo da FRELIMO de que os prisioneiros políticos mortos foram combatentes genuinos da liberdade que merecem respeito e amor do povo moçambicano.
O livro-mãe "Mateus Pinho Gwenjere: A Revolutionary Priest” assim como a versão da edição portuguesa do livro “Mateus Pinho Gwenjere: Um Padre Revolucionário” já se encontram à venda em algumas livrarias da cidade de Maputo. O livro também se encontra à venda na Amazon no seguinte site: https://www.amazon.com/Mateus-Pinho-Gwenjere-Revolutionary-Priest-ebook/dp/B07SKWZ734, podendo o leitor lê-lo até quase o final do segundo capítulo (página 51) sem pagar nada (grátis).