Província de Cabo Delgado, palco de uma intensa atividade de multinacionais petrolíferas que se preparam para extrair gás natural, tem sido cenário de ataques de homens armados desde outubro de 2017, ações que já provocaram mais de 200 mortos
Cerca de nove mil camponeses abandonaram perto de 13 mil hectares de terra para cultivo em Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado, devido à violência armada naquela região, anunciaram esta segunda-feira as autoridades locais.
"A área [de cultivo] planificada para a presente campanha foi abandonada por conta da ação dos malfeitores. De facto, o nível da produção que prevíamos não é o nível que vamos ter", disse Neves Salaova, do Serviço Distrital de Atividades Económicas de Mocímboa da Praia, citado hoje pelo canal privado STV.
No total, segundo a fonte, são nove mil camponeses que abandonaram as suas terras naquele distrito, que registou em outubro de 2017 o primeiro ataque relacionado com a ação de grupos desconhecidos em Cabo Delgado.
"Nós estávamos a espera de 156 mil toneladas, mas hoje só teremos [perto de] 89 mil toneladas, esta redução é muito notória", acrescentou Neves Salaova.
Ataques desde 2017
A província de Cabo Delgado, palco de uma intensa atividade de multinacionais petrolíferas que se preparam para extrair gás natural, tem sido cenário de ataques de homens armados desde outubro de 2017, ações que já provocaram mais de 200 mortos.
As dezenas de detenções na região não têm conseguido conter a violência, multiplicando-se ataques e acusações de abusos de direitos humanos contra as Forças de Defesa e Segurança.
As Nações Unidas já alertaram para o aumento das ações de "grupos terroristas" e de tráfico de droga em Moçambique, com destaque para o norte, considerando que o país está vulnerável após a passagem este ano de dois ciclones (Idai e Kenneth), um dos quais atingiu Cabo Delgado.
LUSA – 29.07.2019