Por Inês Semente
Sono profundo, coma, seja qual for a identificação que lhe for dada, faz lembrar a estória da branca de neve e a maçã envenenada.
Isso claro, num cenário de florestas, anões e bruxas que nada tem a ver com o presente texto. Excepto claro, na inspiração para escrever. Ultimamente revejo em muitos dos acontecimentos do nosso belo Moçambique as estórias da Disney, o que me leva a pensar se estaremos vivendo um mundo real ou imaginário.
Mas, qualquer semelhança, é pura coincidência. Se for imaginário, que nos caibam apenas as cenas e papéis das mocinhas e mocinhos porque de vilões nos bastam os reais e que nos fazem experimentar sabores amargos e azedos, ou dissabores, conforme a escolha do cardápio.
Não irei sequer tentar apontar algum, sob risco de consumir o “abecedário” todo e ainda ter que importar dos outros ou até mandar “inventar” um específico que se enquadre dentro das arestas das nossas fronteiras. Hoje ficarei pelo gigante adormecido que despertou na Ilha de Moçambique. Se pensam já em organizar as câmeras para com flash, WhatsApp e Facebook fazer cobertura de algo inédito, esqueçam.
Meu gigante não é um animal corpulento e assustador, não tem patas e nem se move, mas faz mover pessoas.
Falo do esquecido e enterrado Hospital da Ilha de Moçambique, que saiu dos escombros, literalmente, e ganhou vida, também literalmente. Durante anos aquele edifício histórico, monumental e de grande valor, foi desvalorizado e desacreditado. Sim, desacreditado, porque houve quem teve um pesadelo um dia e o quiz transformar em hotel, numa perspectiva de captação de recursos e alegando pretenderem desenvolver o Turismo na Ilha de Moçambique, alegando que a Ilha precisa de instâncias turísticas grandiosas, vulgos hotéis cinco estrelas, talvez julgando que as estrelas são atribuídas pelo peso da estrutura.
E relegando a um plano mais baixo o valor e a qualidade. Em boa hora valeu o despertar do Governo para as reais necessidades da Ilha e dos Ilhéus e para o que complementa o turismo. O Centro de Saúde da Ilha de Moçambique foi alvo de recuperação. E com ele recuperamos a dignidade das nossas mães que podem agora ter um leito digno para trazer vida a esse mundo. Recuperamos qualidade de vida aos muitos idosos que residem na Ilha, pois terão cuidados mínimos de saúde.
E ganhamos um sorriso no rosto das crianças que olham agora o horizonte com mais esperança e as estrelas que tanto queríamos o hotel, porque uns dos aspectos essenciais para qualquer turista é a segurança e existência de unidades sanitárias com condições mínimas para atendimento em caso de alguma emergência médica.
Esquecendo que há uma cadeia de valor e serviços interdependentes para tornar um destino turístico apelativo são priorizados as construções de estâncias turísticas, rotuladas com estrelas, mas esquecidas as infraestruturas que complementam essas estâncias, ignorados os serviços que alimentam cadeia.
Com ou sem histórias da carochinha, o que vale é que neste episódio o gigante não assusta ninguém e não destrói nada. Esse gigante sim, queremos na nossa Ilha e em todo Moçambique, tão grande como seu nome, tão imponente como sua estrutura.
Queremos gigantes acordando nas nossas estradas, pontes, hospitais, escolas, centros culturais. Queremos gigantes verdadeiros e não fictícios, que venham para ficar e não apenas passeando em tempo eleitoral. Queremos sair da Disney para a realidade.
WAMPHULA FAX – 02.08.2019