Além da Amazónia, as florestas de África também estão a arder. Entretanto, as situações no continente africano e na América do Sul são muito diferentes e nem sempre podem ser comparadas do ponto de vista ecológico.
As imagens de satélite da NASA mostram a escala assustadora dos incêndios florestais na África Central. Uma corrente de fogo se alastra desde Angola passando pela República Democrática do Congo e Moçambique até Madagáscar. As chamas são semelhantes às que consomem a Amazónia brasileira e provocaram indignação em todo o mundo.
Em 24 de agosto, um satélite da NASA terá detetado quase sete mil focos de incêndio em Angola e cerca de quatro mil na RDC. Assim, os dois países serão os que mais registam queimadas no mundo, seguidos do Brasil, com 2.127 incêndios. O Governo de Angola, entretanto, não confirmou a veracidade dos dados divulgados pela imprensa internacional.
O facto é que as queimadas são um fenómeno frequente na estação de seca nas savanas de Angola ou Moçambique. Esses incêndios são responsáveis pela renovação dos ecossistemas. Depois dos fogos, a savana torna-se verde no mês de outubro. Em entrevista à DW, a ministra do Ambiente de Angola, Paula Francisca Coelho, afirmou que não faz sentido comparar situações completamente diferentes.
"Não há necessidade de se levantar aqui parâmetros comparativos relacionados aos incêndios na questão a decorrer com o nosso país, Angola. Neste momento, não temos nenhum incêndio em ocorrência e o que acontece são queimadas feitas por algumas das nossas comunidades para a preparação dos solos para a próxima campanha agrícola", afirmou.
A ministra também se mostrou disposta a receber qualquer tipo de ajuda internacional, ao contrário do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Pelo Twitter, o ministro da Comunicação Social de Angola, João Melo, escreveu que "confundir fotos de capim a arder" em Angola "com incêndios massivos em florestas é brincadeira".
"E misturar isso com politiquice barata, é pior ainda. Lamentável", acrescentou o ministro. Ao mesmo tempo, a ministra do Ambiente adiantou que o Governo vai intensificar programas de consciencialização dos agricultores sobre a proteção do meio ambiente.
Moçambique: Aumento da desflorestação
Em Moçambique, os incêndios estão a aumentar intensificados pelas alterações climáticas. Este fenómeno está a causar grande preocupação aos ambientalistas e ao Governo.
"Tem uma maior incidência dos problemas florestais causados pelos incêndios nas províncias do norte de Moçambique, nomeadamente, Niassa, Cabo Delgado e Nampula", afirma João Massango, do Partido Ecologista - Movimento da Terra (PEC-MT). "Moçambique tem perdido anualmente cerca de 285 mil hectares de florestas e isso é provocado pelos incêndios."
Massango adverte que levará pelo menos 100 anos para que as florestas do norte e centro de Moçambique voltem ao estado em que estavam há 15 anos. A principal razão do desmatamento é a expansão de campos para a agricultura no país. Quando o solo está esgotado e o rendimento das culturas diminui, as terras e os assentamentos são movidos e uma nova floresta é queimada.
RDC: Bacia do Congo sob ameaça
A floresta na Bacia do Congo é considerada o "segundo pulmão verde" do planeta, depois da Amazónia. A floresta se estende por vários países numa área de 3,3 milhões de quilômetros quadrados. Um terço das florestas se concentra na República Democrática do Congo. O restante está no Gabão, República do Congo, Camarões e República Centro-Africana.
Assim como a Amazónia, as florestas do Congo absorvem toneladas de dióxido de carbono, o que, segundo especialistas, tem um papel fundamental no combate às alterações climáticas.
De acordo com a organização Global Forest Watch Fires, houve quase um milhão de incêndios na República Democrática do Congo desde 1 de julho. Mesmo assim, há muitas diferenças em relação ao Brasil. Segundo o Greenpeace, muitos dos incêndios na RDC estão fora de áreas sensíveis da floresta tropical da Bacia do Congo.
Madagáscar: Um pedido de socorro
Originalmente, o Madagáscar possuía 90% de cobertura florestal. Dos 53 milhões de hectares de floresta, apenas 10% estão hoje preservados. Todos os anos, cerca de 120.000 hectares de floresta desaparecem devido aos cortes e às queimadas. Se a destruição continuar a acelerar nesse ritmo, as florestas do Madagáscar serão completamente desmatadas em 40 anos, admite o ministro do Ambiente do país, Alexandre Georget.
Fundador do Partido Verde de Madagáscar, o ministro diz que a pior temporada de incêndios vai de julho a outubro. "O atual combate ao fogo é uma das nossas prioridades. Apelamos a todos que possam nos ajudar, sobretudo os países europeus. Precisamos urgentemente de aviões de combate a incêndios, porque no momento não somos capazes de reagir com rapidez e eficácia contra o fogo", diz Alexandre Georget.
Os incêndios florestais em África são piores do que na Amazônia? A resposta do ministro é: "Para mim, não há distinção entre incêndios florestais ruins ou piores. Quando as florestas queimam, o futuro do planeta está em jogo. Então, todos precisamos trabalhar juntos para resolver esse problema devastador".
DW – 30.08.2019