Por: Venancio Mondlane
Decorreu no passado dia 03.10.2019, Quinta-feira, no Hotel VIP, um debate sobre os manifestos dos 4 (quatro) partidos com candidatos Presidenciais.
Para além da apresentação dos manifestos pelos representantes dos candidatos Presidenciais, antecedeu uma "feira dos manifestos", onde cada partido, no seu stand, fez a exposição do seu material de propaganda eleitoral e "vendia" os seus ideais aos que visitavam a feira de acesso livre.
O formato do debate resumia-se no seguinte: a. Apresentação dos manifestos durante 10 minutos e b. Perguntas da plateia e sociedade civil aos painelistas, que tinham 2 minutos para resposta.
Os quatro partidos (Frelimo, Renamo, MDM e Amusi) fizeram as suas apresentações no tempo pré-definido e seguiu-se o debate, com respostas e contra-respostas.
No diário de campanha transmitido pela STV no jornal da noite, o debate foi referido como um simples apêndice de um laudo acusatório contra Renamo, sem direito ao contraditório, do porta-voz da Frelimo onde dizia que as agressões perpetradas em Gaza contra a oposição eram resultantes de "pessoas infiltradas" que queriam manchar o bom nome da Felimo.
Para além deste erro clavicular em jornalismo profissional, a voz off que acompanhava a edição dizia que "a Renamo inviabilizou o discurso do representante do candidato Presidencial da Frelimo."
Em suma, para STV o debate dos manifestos acabou ficando resumido nos apupos que sofreu o representante do partido de regime e ao mesmo debate se engendrou uma conexão lógica com uma suposta atitude de violência cuja autoria a Frelimo se convertia num anjo da luz e a Renamo, dito por preterição, era por dedução a protagonista. Que jornalismo de vaga ainda por nomear? Caso de estudo.....!!!!
Para a STV deixou de ser notícia de interesse público o seguinte:
i. O debate e as linhas de força dos manifestos.
ii. A feira dos manifestos, a percepção e reacção dos visitantes e participantes.
iii. O debate que ocorreu também no Hotel VIP das Ligas Femininas dos partidos concorrentes.
Por outras palavras, para STV, não são notícia de interesse nacional assuntos estruturantes como: a) Política Económica na visão dos partidos; b) Estratégias de combate a corrupção; b) Política de inclusão, integração e valorização de população vulnerável como idosos, portadores de deficiência, mulheres grávidas, saúde materno-infantil; c) Políticas e estratégias sociais, culturais e educacionais dos partidos para Moçambique.
Notícia para STV, é a reacção da Frelimo, em defesa própria e sem contraditório, sobre a violência que ela própria é protagonista principal. Fiz referência no debate do seguinte:
a. 99% dos casos de violência de que tive conhecimento, como mandatário Nacional da Renamo, registados nas esquadras e encaminhados as procuradorias locais, envolvendo partidos políticos, a Frelimo é o agressor omnipresente.
b. O posicionamento dúbio do Presidente da República, nos casos mais flagrantes e de conhecimento público, como os casos de Gaza, é reflexo de que ele (o Presidente da Frelimo), avaliza e incentiva tais barbaridades e crimes eleitorais.
c. A minimização e mutismo dos órgãos eleitorais, instituições de justiça quanto aos casos flagrantes de ilícitos e crimes eleitorais como o "registo, apreensão ilegal e coerciva dos cartões de eleitores", como o vídeo que se tornou viral do Secretário de Comité de círculo em Massingir, é uma clarividência de um grande esquema de actos preparatório de uma mega-fraude eleitoral.
Para STV a maior e melhor notícia que ressumbrou do debate sobre os manifestos, foram os apupos da Renamo ao porta-voz da Frelimo e a tese de imaginação hiper-fértil de que a violência Eleitoral em Gaza é resultado de infiltrados no seio da Frelimo!!!!!!!!!
Em palavras mais coloquiais, para o grupo Soico, pancadaria, gritaria, e a narrativa de defesa em causa própria do regime é notícia "jornalisticamente" mais relevante que a apresentação e discussão de ideias sobre questões estruturantes da governação Nacional.
Muitos estudos especializados tem tido, amiúde, que os órgãos eleitorais tem sido um vector de instabilidade política e prenúncio de violência pós-eleitoral em Moçambique, nos parece que a STV não quer ficar excluído de tão majestosos adjectivos, pelo que decidiu tomar dianteira e se tornar pioneira, como o primeiro órgão de comunicação social que nos serve os ingredientes de uma instabilidade política eleitoral antecipada.
O órgão que devia servir como moderador, criar os equilíbrios necessários quando os partidos eram em ruptura, não tem nenhum pejo em se identificar com uma das partes e assumir a vanguarda como parte integrante do grupo de choque mediático da estratégia violenta da Frelimo apadrinhada pelo seu Presidente.
Gostaríamos que os observadores nacionais e estrangeiros, os eleitores, os partidos, a sociedade civil, anote que a STV passou agora para o panteão dos protagonistas da inverdade e injustiça eleitorais; padrinhos da violação sistemática e grotesca da constituição e das leis eleitorais.
Para além de ausência de qualquer resposta as quatro reclamações que enviei a STV denunciando cobertura parcial da campanha, atribuindo mais tempo a Frelimo e ao seu candidato, edições de imagens manipuladas e indisfarçavelmente tendenciosas para se compadecer com encomendas antiéticas e contrárias ao brio profissional, agora o grupo Soico deu um salto qualitativo mais arrojado, onde já faz edições similares ao power point para que o programa do candidato da Frelimo se torne mais atractivo e clarividente.
A STV tem vindo a prestar um péssimo serviço público-eleitoral, violando a constituição e a lei e, em última instância, se mostrando um agente na contramão da construção e solidificação dos valores democráticos e de cidadania.
Atentamente
Venâncio Mondlane
(Mandatário Nacional da Renamo)