O sector privado moçambicano não está preparado para combater a corrupção, porque a sua sobrevivência depende do clientelismo com as elites no poder, disse hoje o director-executivo do Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização da sociedade civil.
“A maior parte do setor privado moçambicano não está preparado para ser um parceiro no combate à corrupção, porque se reproduz numa lógica de clientelismo político e de corrupção”, disse à Lusa Edson Cortez.
O dirigente da organização não-governamental (ONG) falava à margem de um debate sobre “Soluções inovadoras no combate à fraude, corrupção e branqueamento de capitais”, realizado hoje em Maputo.
O acesso aos contratos e negócios com o Estado em Moçambique passa por investir na corrupção e em alianças com as elites que controlam o poder político e económico, o que trava a moralização do setor privado do país, acrescentou.
"Ninguém produz nada [em termos de bens], ninguém cria interligações entre a economia e é um setor privado que cada vez mais vai a reboque de um setor público", declarou o diretor-executivo do CIP.
A prova da dependência do setor privado moçambicano em relação aos grupos que controlam o Estado vê-se no facto de que em cada ciclo de governação surgem novos empresários, em função das afinidades com as novas elites no poder.
"Neste momento, já começa a guerra da constituição do novo governo. Tenho a certeza mais do que absoluta de que os empresários querem saber quem é o ministro que se segue, porque isso lhes permitirá prestar vassalagem em benefício dos seus negócios", declarou.
Os empresários de sucesso em Moçambique variam com a mudança de governo, porque uns são preteridos em favor de outros, assinalou.
O diretor da ONG considerou que a transformação do tecido empresarial moçambicano passa pela aposta em setores não dependentes da prestação de bens ao Estado e em áreas de satisfação das necessidades dos consumidores.
"Se os empresários forem para setores aparentemente menos lucrativos, mas que não dependam das lógicas impostas pelas elites no poder, aí teremos um setor privado independente e comprometido com a ética nos negócios", afirmou Edson Cortez.
Pedro Subtil, da consultora Ernst & Young em Portugal e Moçambique, defendeu que as empresas devem desenhar as suas próprias políticas de combate à corrupção e ao branqueamento de capitais, em linha com a legislação adotada pelos estados.
A adoção de uma matriz de riscos de corrupção, códigos de conduta, avaliação de riscos, e criação de canais de denúncias são algumas medidas que o setor privado pode implementar, disse Pedro Subtil.
LUSA – 31.10.2019