Por Edwin Hounnou
Não, não vale a pena o país gastar os poucos recursos que possui ou consegue angariar em eleições de faz-de-conta, quando já se sabe quem as vai ganhar através de fraudes. O povo cansa-se de brincadeiras de mau gosto que se pretende perpétua nas nossas eleições. O povo perde tempo com recenseamento fraudulento e volta a perder o seu tempo em votar quando o vencedor é determinado pelos órgãos eleitorais e polícias e não pelo voto popular.
As pessoas têm a consciência de que o seu voto não conta para grandes decisões como é o caso de escolher por quem deseja ser governado. O voto do povo depositado nas urnas não conta para a eleição do Presidente da República nem para os Deputados da Assembleia da República. Não conta, também, para a eleição do governador de província nem dos membros das Assembleias Provinciais.
O povo vota, mas quem, de facto, decide são eles, é o partido Frelimo, é a polícia, são os órgãos eleitorais. Embora tarde, mas o povo acabou entendendo que o seu voto serve, apenas, para enfeitar, para que se diga, lá fora, que, em Moçambique, há, também, democracia e, ao fim de cada cinco anos, o povo é chamado a votar em partidos e candidatos, previamente, vencidos porque quem dita o vencedor são outros e não o seu voto.
O povo sabe que o seu voto não vale para nada. Que quem determina o vencedor de qualquer acto eleitoral são os órgãos eleitorais, a polícia e o Conselho Constitucional. É STAE - Secretariado Técnico de Administração Eleitoral que diz que este venceu e os outros perderam. É a CNE – Comissão Nacional de Eleições - que indica o vencedor. Algumas vezes é o voto de qualidade do seu presidente que desempata a contenda e todos sabemos que ele é jogador do partido Frelimo, logo, sempre joga a favor do seu partido.
Quem marca o golaço é o Conselho Constitucional, ao cair do pano, proclamando o vencedor previamente conhecido, sem a possibilidade de recurso. Gostaríamos de apelar a Nyusi e a seus correligionários para não terem vergonha de declarar o fi m da democracia e do sistema multipartidário, no país. Não vale a pena perder tempo e dinheiro com coisas sem interesse. Há ditadores no mundo e Nyusi não seria o único nem o último.
O partido Frelimo não seria o único a destruir o sistema que se acreditava democrático. Párem de fi ngir e de jogar à democracia! Qualquer jogo perde o interesse quando se conhece o seu vencedor por antecipação. Ninguém perde seu tempo nem dinheiro para ir assistir a uma competição cujo vencedor tem a vitória fora do ringue ou campo de jogos. Eu, também, não perderia meu tempo com eleições de fantochadas. Em Moçambique, quem quiser participar das eleições deve ter, sempre, em conta que se vai defrontar com o Estado.
Em democracia, as eleições são concorridas por partidos políticos ou organizações da sociedade civil. Em Moçambique do partido Frelimo, são os partidos políticos que se confrontam com o Estado. Os funcionários do Estado, os edifícios, os meios circulantes do Estado, os edifícios do Estado, os combustíveis e lubrificantes do Estado são pertenças do partido Frelimo.
Depois da palhaçada dos homens de togas que se esperava que decidisse não só pela lei, mas, sobretudo, respeitando a vontade do povo expressa nas urnas. A vontade do povo expressa nas urnas não tem nada a ver com enchimentos das urnas, por vezes, com a assistência fraternal da polícia do Estado que não só ajuda a fazer enchimentos, mas também garante protecção aos violadores da lei, fraudulentos e gananciosos.
As eleições, em Moçambique, são uma grande mentira. São uma farsa que já não se esconde. Os promotores da farsa já não precisam de se esconder, como era de práxis no passado, agora o fazem à luz do dia para que não haja dúvidas de que isso não é eleição nenhuma. Eles não temem as leis nem as instituições de justiça, pois eles dominaram o Estado.
Sob as suas longas garras, mantêm a polícia bem submissa, os tribunais, incluindo o Conselho Constitucional, mansos que nem cordeiros e os órgãos eleitorais obedientes aos seus desígnios maléfi cos e mafi osos de querer tudo para si. Os crescentes índices de abstenções indicam que os processos eleitorais viraram meros rituais marginais que podem ser dispensados porque o povo acha que tudo aquilo não passa de uma brincadeira de adultos que, mutuamente, se aldrabam e se mentem.
As eleições não passam, nos dias que correm, uma oportunidade para receber uma capulana, um boné, t-shirt e combustível para o seu motociclo a fi m de perseguir o “inimigo” e beber um copinho de cerveja ou mal-coado, à custa de quem deseja enganar o outro por intimidações e fraudes através de enchimentos de urnas com votos falsos.
Se nada for corrigido, a reinstalação de um regime monopartidário, em Moçambique, é inevitável. Filipe Nyusi vai entronizado como o presidente “amuyaya” – o eterno presidente, tipo Kamuzu Banda, antigo ditador do Malawi, que dispensava qualquer eleição e se esta ocorresse era, apenas, para agradar a comunidade internacional que gosta de ver as suas marionetes a brincarem com os seus povos.
Com Nyusi no poder, o nosso país está a retroceder a olhos bem vistos. As eleições são para não envergonhar os países que pretendem acumular os seus rendimentos através do nosso gás, carvão e da nossa madeira.
A democracia serve para ampliar as liberdades dos povos, em particular, a da livre escolha dos seus dirigentes enquanto para nós não passam de um mero exercício de puro engano e mentiras.
Não é o povo que escolhe por quem deseja ser governado, mas é o partido Frelimo que se impõe à vontade popular. De nada serve perder tempo para votar, se o seu voto não decide nada?!
CM – 31.10.2019