O grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI) anunciou hoje ter repelido um ataque militar no Norte de Moçambique contra uma das suas posições, num confronto em que provocou várias baixas e fez um prisioneiro.
A informação é veiculada no boletim Al-Naba do EI.
Até ao momento, analistas e fontes no terreno contactadas pela Lusa rejeitaram a ligação destes ataques no norte do país a movimentos terroristas internacionais de extremismo islâmico, apontando tensões locais nas comunidades como causa dos casos de violência.
A organização terrorista diz que os seus homens na província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique – que dizem fazer parte do Califado da África Central – “repeliram um ataque contra as suas posições” na zona de Mbau, distrito de Mocímboa da Praia, levado a cabo por “vários soldados dos exércitos moçambicano e russo”, no domingo, dia 13.
“Os confrontos resultaram na morte de vários soldados, ferimentos em muitos deles”, anuncia o EI, que diz ter feito um prisioneiro e recolhido “armas e munições” que os militares “deixaram para trás” ao fugir.
O Ministério da Defesa moçambicano anunciou ontem ter feito um ataque de artilharia, já depois deste confronto descrito pelo Estado Islâmico, em que conseguiu neutralizar vários membros dos grupos armados.
O ataque de artilharia foi executado na quarta-feira, anunciou.
A Rússia negou à Lusa ter militares em solo moçambicano.
O ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, José Pacheco, anunciou há duas semanas que o apoio russo diz respeito ao fornecimento de equipamentos militares.
A zona em causa, umas vezes referida como Nbau outras como Mbau, foi palco de confrontos em 23 de setembro, após um ataque reivindicado pelo grupo ‘jihadista’ em que terão morrido 10 pessoas e em que foram incendiadas várias casas, incluindo a sede da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
A região de Cabo Delgado é afetada desde outubro de 2017 por ataques armados levados a cabo por grupos criados em mesquitas da região e que eclodiram em Mocímboa da Praia.
Como consequência já terão morrido, pelo menos, 250 pessoas, quase todas em aldeias isoladas e durante confrontos no mato, mas, nalgumas ocasiões, a violência atingiu transportes na principal estrada asfaltada da região, bem como a área dos megaprojetos de exploração de gás – em que há várias empresas subempreiteiras portuguesas.
Autoridades e analistas ouvidos pela Lusa têm considerado pouco credível que haja um envolvimento genuíno do grupo terrorista nos ataques, que vá além de algum contacto com movimentos no terreno.
A Comissão Nacional de Eleições estima que 5.400 eleitores da região não tenham podido votar nas eleições gerais de terça-feira por terem fugido da área de residência e por terem perdido os seus haveres, incluindo documentos, nas incursões dos grupos armados.
LUSA – 18.10.2019