Os dois maiores partidos da oposição em Moçambique, a RENAMO e o MDM, dizem que a grande aposta nestas eleições era a fiscalização para evitar a fraude. Mas a estratégia falhou por culpa da polícia, acusam.
A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) dizem que, se a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) tinha preparado a fraude eleitoral, a oposição também estava preparada para evitar tal fenómeno. A aposta da oposição para estas eleições era a fiscalização para evitar a derrota.
Mas a estratégia da oposição falhou. Os dois maiores partidos da oposição moçambicana apontam o dedo àquilo que consideram ser a "má atuação da polícia", que escorraçou e deteve os seus delegados de lista nas mesas de voto, menos os do partido no poder.
"Não houve espaço para que a tal fiscalizacão acontecesse porque a polícia estava lá para correr com os nossos [delegados de lista] e a prendê-los", afirma o secretário-geral da RENAMO, André Majibire.
Portanto, "não se pode dizer que falhou alguma coisa do nosso lado. Não falhou nada", afirma. Segundo Majibire, a polícia é que não permitiu que a estratégia da oposição se concretizasse.
Polícia condicionou fiscalização
A RENAMO disse que as armas da polícia, na boca da urna, falaram mais alto e o maior partido da oposição estava de olho para evitar esse cenário. Majibire explica que o que aconteceu "foi uma violência jamais vista sobre os fiscais dos partidos da oposição, sobretudo os da RENAMO".
"O que podíamos fazer perante pessoas com armas a disparar e com gás lacrimogéneo?", questiona Majibire.
Analistas em Moçambique consideram que a oposição perdeu estas eleições por causa da desorganização e despreparação, o que é refutado pelo secretário-geral da RENAMO. Majibire acusa esses analistas de serem "fiscais da FRELIMO" e, como tal, "não há nenhum analista da FRELIMO que vai admitir que houve fraude, que houve polícias que correram com os fiscais da oposição."
O MDM também justifica o descalabro eleitoral com a má atuação da polícia.
O porta-voz do partido, Sande Carmona, diz que, do lado do MDM, tudo estava preparado para fiscalizar estas eleições. Mas essa fiscalização "era condicionada pela vontade daqueles que tinham recebido instruções a partir do Comité Central da FRELIMO: estamos a falar dos presidentes das mesas de votação e da polícia, que foi alocada para as mesas de voto."
Delegados da oposição impedidos de reclamar
A DW África questionou o MDM sobre o que fez no terreno para evitar que essas situações acontecessem. Sande Carmona responde que os delegados dos partidos foram "impedidos de fazer alguma participação, alguma reclamação e correção daquilo que não era de lei na mesa de assembleia de voto."
O MDM nega também que esteve desorganizado e despreparado para participar nestas eleições. O porta-voz do partido refere mesmo que, se isso fosse verdade, a FRELIMO não precisaria de encher urnas, preencher editais ou "preencher um caderno que tem apenas 800 eleitores registados".
Mais ainda, segundo Carmona, a FRELIMO não precisaria de "ter medo [e] colocar muitos polícias para controlar os delegados de lista da oposição."
O partido no poder já disse que a oposição é livre de contestar os resultados eleitorais, que considera fraudulentos.
DW – 25.10.2019