Por Edwin Hounnou
No passado, o grupo de engraxadores era composto, grosso modo, por indivíduos pouco ou mesmo nada escolarizados, sem nenhuma profissão conhecida, indivíduos que emigravam dos seus locais de habitação para as vilas e cidades à procura de uma vida melhor comparativamente à que levavam nas suas aldeias e povoações. Hoje, as coisas mudaram bastante.
Os engraxadores de hoje são, geralmente, indivíduos bem escolarizados, exibem diplomas universitários – são licenciados, mestrados e alguns até são PhD –, porém, não se envergonham perante a sua família e sociedade por estarem a engraxar o regime do partido Frelimo para, em troca, receberem um efémero cargo e desprezível. Eles se contentam por receber alguns trocos e uma mão cheia de rebuçados que não chegam a tranquilizar a sua consciência de mercenários e vendidos.
Esses são, isso sim, pobres em espírito que se deixam vender por um hambúrguer de tomate com queijo e mayonnaise. Não se importam pelos prejuízos que provocam à Nação Moçambicana e à democracia que se pretende construir no nosso país. Numa luta desigual, como a que temos vindo a assistir, é justo que os mais esclarecidos se colocam do lado da verdade.
Dizia o afroamericano Martin Luther King que “o que mais nos preocupa não é o grito dos loucos. O que mais nos preocupa é o silêncio dos bons”. É a voz dos justos e bons que falta para dizer aos malandros, gatunos e assassinos da Frelimo que o que andam a fazer só empurra o país ao abismo e conflitos. Que nenhum país se constrói sobre a mentira, falsidade e aldrabices. Que o país de gente séria se faz em consensos. Um país é forte e sólido quando os seus cidadãos estiverem imbuídos de espírito de pertença da mesma nação e dela têm proveito.
A exclusão socio-económica, política e cultural serve de estímulo à violência, à instabilidade e conflitos que aparecem a seguir às eleições. Esta situação não se resolve com recurso à força nem às prisões e massacres, mas fazendo justiça a começar por haver eleições livres, justas e transparentes. O roubo de votos, enchimento de urnas e a expulsão dos delegados de candidatura, exactamente no momento em que começa a contagem, é violência que agrava, cada vez mais, a situação de violência em que vive o povo.
No dia 6 de Outubro corrente, vimos, na TV, Miguel Mbilana, jurista, professor universitário e especialista em Eleições, falando em nome da JOINT (associação das organizações da sociedade civil moçambicanas???), a dizer que “por mais que tenha havido irregularidades nas Eleições Gerais e Provinciais de 15 de Outubro de 2019, a JOINT considera que não terão influenciado o resultado final”.
Esta afirmação, de todo infeliz, não corresponde ao que se passou no terreno. Faz-nos recordar aquelas declarações dos observadores que costumam vir ao nosso país saborear o nosso camarão e, para justificar a passeata, recomendam aos seus governos a reconhecerem um regime antidemocrático que sai das eleições fraudulentas, sem transparência nem justas. Mbilana deve ser um ignorante ou pertence a observadores da OJM e OMM.
O partido governamental socorre-se de meios públicos para a sua campanha tais como funcionários, viaturas, combustíveis e lubrificantes, incluindo edifícios para fazer política. O objectivo desses observadores é de colocar os governos de seus países num bem bom com os nossos novos colonos sem levarem em conta os anseios do povo moçambicano que se bate pela democracia, justiça, igualdade socio-económica e desenvolvimento, enquanto os demais apenas querem se apoderar dos nossos recursos, em conluio com os corruptos da Frelimo. Existem, também, organizações internas que agem como inimigos do povo, agarrando-se, com unhas e dentes, no princípio da liberdade de pensamento.
É bastante preocupante termos pessoas que pensam de tal maneira por colocarem os seus interesses umbilicais acima de todos nós. Os “mbilana” do Moçambique dos nossos dias não podiam agir de outro modo quando se vive numa sociedade dominada por um partido impõe de ser a norma de viver de Estado dono de tudo e de todos – nossas vidas, consciências e dos nossos salários.
Eles, os “mbilana” pensam que sem Frelimo, todos morremos, não podemos sobreviver, por isso, temos a obrigação de lhe prestar vénia, homenagens e cantar-lhe hossanas. Estão constituídos em considerável grupo de engraxadores conhecido como G40 cuja missão é anunciar que a Frelimo pode matar, roubar, mas tudo o fazem em nome e para o bem-estar dos moçambicanos. São intelectuais de fome que só olham para os seus umbigos e julgam que o país começa na sua barriga e termina no horizonte das suas ambições.
Os “mbilana” pensam que todos nós somos tão ingénuos e imbecis quanto eles. Esquecem-se de que nós trabalhamos para o nosso pão de cada dia. Não rastejamos nem andamos de barriga, miando debaixo da faustosa mesa do poder a fim recolhermos espinhas e migalhas que sobram do festim dos delapidares do nosso futuro comum. Afirmar que as irregularidades, isso é, apenas, um eufemismo, não influenciam o resultado final, é um grande insulto às nossas consciências.
A diferença que existe entre nós e eles consiste no facto de que nós amamos o nosso país, o nosso povo. Não somos vendilhões da pátria. Nós não armadilhamos o futuro dos nossos filhos nem comprometemos o amanhã dos moçambicanos. Não vendemos a alma ao diabo em troca de cinco dinheiros como o outro que, depois de os encaixar.
O apóstolo Pedro que depois de negar o seu Mestre, por três vezes, deixou-se banhar em lágrimas de arrependimento, enquanto os “mbilana” continuam enrolados em manto da mentira e a se baterem pelo osso caído da mesa dos burladores de eleições.
Os “mbilana” fazem tábua rasa aos enchimentos de urnas com votos falsos, aos boletins de votos que poluíram todas as assembleias de voto muito antes de iniciar a votação. Não têm em conta a campanha feito à boca das urnas pelos secretários da Frelimo e a atribuição, por cada eleitor camarada, boletins a mais e a clara indicação para votarem na Frelimo e no seu candidato, Filipe Nyusi.
Não contam a proibição e interdição explícita pelos membros da Frelimo para que a oposição não fizesse campanha em Inhambane e Gaza, sob o olhar inerte e cúmplice da polícia frelimizada.
Os “mbilana” recomendam-nos a esquecer as falcatruas dos seus patrões. Ainda que os “mbilana” e outros G40 se esforcem, as eleições não foram livres nem justas. Não foram transparentes nem credíveis.
Os “mbilana” e o Sheik Abdul Karimo, que aprovou os resultados falsificados, são farinha do mesmo saco, paridos na maternidade da Frelimo.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 13.11.2019