EM Cabo Delgado, os ataques armados continuam imparáveis, do mesmo modo que prevalece a incógnita sobre a real motivação da insurgência armada.
Quem não tem dúvidas é o expert militar sul-africano, Johann Smith, antigo oficial das Forças Armadas, que quase jura a pés juntos de que a influência makonde na tomada de decisões em Moçambique está por detrás do mal-estar na província mais a norte de Moçambique.
Num primeiro momento, os ataques foram descritos como ‘criminosos’ mas que nos tempos que correm, ninguém tem o controlo dos vários grupos que se encontram activos na insurgência, especificamente nos distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Macomia, Palma, Quissanga, Muidume e Nangade, neste quarta-feira alvo de um ataque destruidor de móveis e imóveis.
O povoado de Tingina, em Nangade, foi o alvo dos ataques de anteontem, resumidos em destruição de veículos automóveis e de residências. Até camiões carregados de castanha de caju não escaparam à ‘queima’, inviabilizando negócio aos comerciantes que transportavam o produto para vender num outro ponto da região.
Isto do ponto de vista económico e social. Em termos militares, para o general Johann Smith a insurgência foi elevada a sua importância estratégica, de forma considerável, com o aparecimento do gás natural na província.
Em Cabo Delgado mora o terceiro maior jazigo jamais descoberto, daí a zona se encontrar militarizada.
O antigo oficial das Forças de Defesa da África do Sul (SADF) insiste na mesma tecla: “julgo tratar-se de diferendos entre os principais grupos tribais, dado que a influênia dos makondes, agora no poder no país, são um grupo minoritário de cerca de 300 mil pessoas, mas que tem vindo a exercer muita influência na tomada de decisões políticas em seu favor, e por isso o surgimento de uma resistência à influência makonde que não está a contribuir para a estabilidade daquela região”.
As autoridades hesitam na decisão certa, entre opção diálogo e reacção armada.
O general sul-africano lamenta a incapacidade das autoridades em lidar cabalmente com o problema, mas se sente autorizado a sugerir que o recurso à intervenção militar não resolverá a situação, antevendo o agravamento no terreno: “irá agravar-se antes de melhorar”.
A opção é o diálogo comunitário e passa pelo reconhecimento, no terreno, tal como ela é, pela actual liderança política moçambicana.
Em determinado momento, nos corredores, veiculou a informação segundo a qual, foi aventada a possibilidade de dialogar com as lideranças dos insurgentes. Não passou disso, sob argumento de que não se sabia com quem falar do outro lado da barricada.
Citado pela lusa, o general Johann Smith e investigador em assuntos militares indica que a insurgência na província sofisticou-se ao ponto de terem conseguido infiltrar-se nas Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Depois de negociatas que leveram para as matas de Cabo Delgado militares russos, entretanto provavelmente se mudado para Nacala, a opção indiana parece o próximo contributo estrangeiro.
Há dias, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, esteve em Díli para tratar de negócios militares envolto da protecção da costa marítima moçambicana, no quadro da Zona Económica Especial (ZEE). Isto em termos oficiais.
Por vezes em tais encontros muita informação sigilosa circula longe da vista dos mídeas, numa altura que, sublinhe-se, os mercenários russos já não andam por Cabo Delgado, trocando as montanhas com o ambiente ameno de Nacala.
O governo nunca confirmou a presença russa no combate aos insurgentes, podendo reeditar o mesmo posicionamento relativamente aos indianos, estes com vasta experiência combativa, acumulada no conflito com os paquistaneses na disputa por Kaximira.
Ontem, a embaixada dos Estados Unidos em Maputo emitiu comunicado a aconselhar os seus cidadãos a não se fazerem à província de Cabo Delgado, por motivos de segurança. Na semana, a capital sul-africana foi palco de um evento regional sobre o extremismo, tendo a situação em Cabo Delgado dominado as atenções.
O receio é a possibilidade de a insegurança se alastrar pela SADC. Sem novos elementos que justifiquem a violência armada em Cabo Delgado, a tribo makonde é motivo dos ataques, segundo Smith.
EXPRESSO – 29.11.2019