Por Major Manuel Bernardo Gondola
Bom! Para falar do marxismo cultural é preciso falar de marxismo que provém de Karl Marx e somente dele. E é muito importante [exaltar] que há uma diferença bem significativa entre o marxismo clássico e o marxismo cultural.
Repare, Marx em seus livros defendia uma [revolução] por parte dos trabalhadores e operários, que ele chama por proletariado. Marx achava que essa classe deveria assumir e tomar os meios de produção para que assim não houvesse mais a luta de classes entre a burguesia e o proletariado e após essa revolução, que poderia acontecer através da força, de armas, tanques de combate com uma verdadeira queda.
Então, depois dessa revolução Marx acreditava, que realmente acabaria a luta de classes e que todos seriam iguais e dessa forma sem classes ele acreditava, que o [comunismo] seria implantado no mundo; teoricamente o paraíso na terra.
Marx, defendia uma ditadura do proletariado. Ou seja, ele acreditava nessa revolução e que o [estopim] para essa revolução, seria uma grande guerra e a guerra aconteceu a primeira Guerra Mundial em 19[14] mas, ao fim dessa guerra as previsões de Marx não aconteceram. Então, foi que surgiu o Instituto para Pesquisa Social em 19[24], que ficou mais conhecida como a [Escola de Frankfurt] na Alemanha, que tem como seu principal membro o António Gramsci18[91[-19[37]¹.
Esse Instituto ou [escola] surge com objectivo de analisar e chegar a uma resposta de o porquê as previsões de Karl Marx não terem dado certo já que só alguns saberiam o comunismo era o país menos industrializado. A resposta que eles chegaram a essa pergunta, a essa dúvida foi a seguinte:
As pessoas seduzidas pelo capitalismo, pelo conforto, pelas tecnologias que o capitalismo trás ficaram “cegas”. É isso que eles colocam. As pessoas “cegas” e por isso impediram que o comunismo fosse implantado, que realmente chegasse a acontecer o comunismo no mundo.
António Gramsci, percebeu que as ideias de Marx, o que ele achava e o que ele pretendia não dariam certo, através duma guerra, da força explícita não seria possível.
Então, que surge a Teoria Crítica através do [insight], que significa o desmembramento, o [divórcio] do marxismo e da economia e logo então, se uni o marxismo com a cultura e aí que surge o marxismo cultural.
Mas, o que é a cultura? A cultura é o que forma a pessoa, é o que forma o indivíduo. O individuo é cultura. As crenças, a lei, a moral, os costumes, os hábitos. O ser humano é cultura. Então, Gramsci percebeu, que [destruindo] a cultura se abririam as portas para os planos de Marx. Sabe porquê? Porque destruindo que ser humano é, é que se torna possível molda-lo da forma que se quer. Então, Gramsci percebeu que seria necessário mudar o pensamento das pessoas, fazê-las questionarem sobre si mesmas, sobre o que elas são, sobre os valores que têm e sobres os valores que existem.
Ele entendeu, que seria necessário uma Revolução Cultural e que essa Revolução Cultural se inicia na cabeça. Gramsci percebeu, que as pessoas, os indivíduos já tinham seu pensamento formado e que isso era influência, era dominado pela civilização ocidental. Gramsci percebeu que os indivíduos são formados de valores e claro que os indivíduos, agem conforme seus valores. Portanto, era preciso destruir os valores que provem da cultura e da civilização ocidental. E é isso que se baseia a Teoria Critica em criticar e atacar a civilização ocidental.
Por isso, seria necessário destruir os três pilares da civilização ocidental:
- Filosofia Grega, que se constituí na busca pela verdade pela lógica e pela coerência;
- Direito Romano, que se constituí na meritocracia e na propriedade privada;
- Moral Judaico-Cristã, que tem como fundamentos, valores que é contra a maldade, contra mentira que proíbe ser humano de matar e…, etc.
«Nós vamos destruir o ocidente, destruindo sua cultura. Vamos nos infiltrar e transformar a sua música, sua arte e sua literatura contra eles próprios» [Gramsci]
E…, claro para destruir isso também seria necessário destruir a [família], que é uma instituição muito forte de poder para que tudo isso acontecesse, seria necessário [assaltar] meios de influência social como; a mídia, educação e a política. Por isso, que Gramsci diz; «não atire nos soldados, tome as mídias, escolas e universidades, não ataque os blindados, ataque as mentes». Ou seja, domine as Instituições humanas e faça com que as massas o [povo] estejam prontas para receber sem resistência o novo regime.
Então, você vê, enquanto Marx queria destruir o capitalismo e queria uma revolução do proletariado por meio insurreccional [violência], Gramsci queria uma revolução cultural e queria destruir a civilização ocidental. Mas, Gramsci sabia que isso seria um processo [lento e demorado] que era um plano para uma geração futura e ele estava certo, demorou um certo tempo mas agora já está sendo colocado em plano em várias partes do mundo e inclusive aqui em Moçambique há décadas e décadas atrás.
Por exemplo, dominação mental das massas, que [consiste] em inverter o processo revolucionário fazendo com que, a população esteja pronta para recebê-lo sem resistência quando este chegar aconteceu antes e depois da proclamação da independência nacional.
A estratégia de dominar todas as Instituições humanas incluindo; as religiões, educacionais, mediáticas, culturais, jurídicas, desportivas, corporativas, empresárias e governamentais, de modo que, as pessoas [populações] desconheçam haver uma coordenação central e se sintam constrangidas por pensarem tratar-se de manifestações honestas. No gramscinismo o Partido toma a função do Príncipe maquiavel, o Partido seria um intelectual orgânico. O Partido agora tem essa função de ser didacta, de ser pedagogo, ou seja; de ser aquele que vai se engajar com as [causas sociais] e tem um papel didáctico de ensino e de conscientizar massas de acordo com as ideias do Partido. Ele [Gramsci] diz o seguinte:
«O Partido dirige a classe penetrando em todas as organizações nas quais a massa trabalhadora se agrupa e realizando nelas e através delas uma sistemática mobilização de energias segundo programa da luta de classes, bem como uma acção de conquista da maioria para as directrizes comunistas» [Gramsci].
Já no vol. [2] cadernos de cárcere diz o seguinte:
«A função do Partido é directiva e organizativa, isto é, educativa, isto, é intelectual».
E nisso, você vê, o partido que tem essa função não mais de ganhar uma [eleição] mas uma função de gerir, organizar e ensinar as massas, ele vai precisar usar os formadores de opinião para formar a intelectualidade. Ou seja, o Partido precisa ganhar [espaço] na sociedade, tendo influência das mais diversas seja através de pagamentos financeiros, seja através de organização de consciência, seja através da [ameaça] ou o que for. Não só…, mas também, o Partido vai ter contacto com aqueles, que produzem a intelectualidade no país para que esses intelectuais de alguma forma possam [propagar] os ideais do Partido e destarte o Partido tem o poder de hegemonia. Um poder de passar as Instituições e ensinar as massas dentro do seu ideal. São as ideias de António Gramsci, que são esse termo marxismo cultural. Essa tentativa de implementar o ideal marxista através duma [caminhada] pela cultural.
Com efeito, dentro do marxismo cultural se encontra nova configuração de opressão. Se para Karl Marx a opressão se dava dos burgueses oprimindo os trabalhadores; agora você tem novas configurações de quem são aqueles que oprimem e que dominam a sociedade. Para Marx, o opressor e o oprimido era burguesia e proletariado; no modelo de marxismo cultural gramscianiano como se configura hoje no país, você tem o homem como opressor a mulher como oprimida; o branco como opressor os negros como oprimidos; o rico opressor o pobre oprimido, o motorista opressor, que anda de bicicleta e no chapa oprimido. Ou seja, você tem uma nova configuração de como se dá opressão dentro do contexto cultural.
De facto, é preciso admitir, que é uma certa genialidade nesse Teoria Critica, pois ela não necessita lógica e nem de factos concretos para ser realizada, ela utiliza da táctica de dividir para comandar. Ela se utilizada da [desinformação] do ser humano é claro da [manipulação] de informações, da mentira que é influenciada pela mídia, educação e pela política.
Da mesma forma, essa genialidade é bastante [restrita] e como eu disse, ela não é lógica e muito menos racional por isso, ela não conseguiu atingir aquelas pessoas que são informadas. O marxismo cultural e as pessoas, que fazem parte disso eles não tem nada, elas não têm que se apoiar, não tem que se sustentar.
E…, eu gosto muito do que [Olavo de Carvalho] diz: «você pode ignorar a realidade mas, você não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade». Ou seja, muitas vezes na tentativa de ignorar a realidade aplicar ideias marxistas em todas as esferas da vida o que você encontra é a fome, a morte e a destruição.
Em termos simples, marxismo cultural é fundamentalmente isso. Essa tentativa de trazer ideais marxistas e [reconfigurar] o marxismo as várias esferas da sociedade. Ou seja, dar novos nomes ao que é marxismo. Chamar de emancipação humana, discriminação positiva, reserva moral, responsabilidade social, [pensamento crítico], geração de viragem, você tem esse marxismo, que se dá de forma cultural.
n/b:
¹ António Gramsci foi um intelectual e fundador do partido comunista italiano e era talvez o maior cérebro do marxismo depois de Marx e Lénine. Foi preso no tempo de Mussolini e dentro da prisão ele escreveu uma série de Documentos chamado caderno de cárcere do qual recomendo vivamente sua leitura.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, 24 de Novembro 20[19]