ERA previsível este cinismo de Filipe Nyusi face aos choradeiros da oposição, na sequência de Jean Boustani, para lá do Atlântico. Na semana passada, foi exigida a saída compulsiva do PR, pelos próprios pés, do palácio da Ponta Vermelha, em 72 horas, dessa maneira antecipando o término oficial do mandato.
Ainda na esteira de Boustani, exigida a anulação do acórdão que valide, ou não, os resultados eleitorais de outubro, pelo Conselho Constitucional, uma espécie de Tribunal Constitucional.
A ideia é que as eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais, sejam reeditadas. O Constitucional não costuma emitir sinais exteriores ao sabor de sururus.
Foi assim quando do ultimato, com sabor a intimidação, do líder da Renamo, Ossufo Momade, a partir de Pemba, em Cabo Delgado. Novo silêncio hoje e, se calhar, também em futuras circunstâncias.
Envolto da polémica, relacionada com a tal intervenção de Jean Boustani, Filipe Nyusi se mantém ‘calado’ e nem o pressing exercido parece o incomodar. Para além de continuar intacto na residência oficial e de não sinalizar para o mundo exterior o seu estado de espírito, Filipe Nyusi dá-se na real gana de fazer charme em peixarias dominicais, com sabor a amistosas tertúlias pelos lados dos morracos, qual território dos imortais guerreiros de flecha e das azagaias.
Cá para os nossos botões, era absolutamente previsível que em face da postura desafiante da oposição, Nyusi e Frelimo se limitassem a assobiar para o lado. Como irrita...
Para os distraídos, vale a pena recordar que tudo isto surge na sequência da intervenão de Jean Boustani, semana passada em sede do tribunal de Brooklyn. O libanês revelou que para a campanha presidencial de 2014, Filipe Nyusi recebeu da Privinvest um (1) milhão de dólares norte-americanos, e a Frelimo, para a mesma finalidade, outros quatro (4) milhões de dólares norte-americanos.
A Renamo e o Movimento Democrático Moçambique (MDM) enxultaram, levados por nervos à flôr da pele, com a ira quase a transbordar na lista de exigências. Está visto que Nyusi assobia para o lado, idem a Frelimo, para o desagrado da oposição, que num quadro normal, devia accionar o plano B.
Urge, pois, que a Renamo e o MDM venham a público marcar posição em face da não materialização de suas exigências, até para a credibilização dos partidos da oposição.
Quando do ultimato, Augusto Pelembe apresentou como plano alternativo, mega-manifestação de pressão até à queda do rigime, na circunstância alertando para a postura imparcial das forças policiais, na altura das arruanças.
Esta casa rí-se, a bom rir, perante a encruzilhada em que a própria oposição se meteu.
A oposição se precipitou na tomada de posição, ignorando inclusive a maturidade do seu alvo, partido Frelimo, cuja matriquice tem para dar e vender.
EXPRESSO – 26.11.2019