Esta semana Moçambique juntou-se ao Mundo e assinalou o Dia Internacional de Combate à Corrupção. Sim, foi bonito de ver e ouvir o que se fez e falou, para não variar. Eventos super-folclóricos e pomposos. Até o nosso Primeiro-Ministro anunciou alguns dados numéricos relativos ao esforço em curso contra a Corrupção na Pérola do Índico: mais de 2000 funcionários punidos, 205 demitidos e 104 expulsos da Função Pública por envolvimento em actos de corrupção em Moçambique.
O nosso “Primeiro” até falou bonito, como é habitual: “O Governo quer acabar com este mal [corrupção] que compromete a prestação de serviços públicos e retarda desenvolvimento do país”. Até me recordei do primeiro Hino Nacional do Moçambique independente, que numa das estrofes incluía juras de que o nosso país “será o túmulo do capitalismo e exploração”. Sim. A sério. Era isso mesmo que se proclamava o Hino pré-Pátria Amada.
Também ao longo desta semana Moçambique juntou-se ao Mundo e assinalou o Dia dos Direitos Humanos. Coincidentemente, no mesmo dia era divulgado o Índice do Desenvolvimento Humano pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) à escala mundial. O documento não podia ser mais cristalino no que ao país que TEM TUDO PARA DAR CERTO tange: fi rme e hirto na mesma posição da avaliação do ano anterior: no grupo dos DEZ PAÍSES PIORES DO MUNDO, neste aspecto.
Quis o destino que dias antes o país tivesse testemunhado a exames escolares e graduações em academias e … escolinhas. Sobre os exames muita tinta correu por causa de fraudes académicas em quase todos os níveis. Digo quase porque só não ouvi falar destas práticas condenáveis nas escolinhas, porque noutros níveis, aquilo até pareciam pleitos dirigidos pela nossa imaculada Comissão Nacional de Eleições (CNE) e pelo nosso augusto Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).
Sim. Tal & qual. Até envolveu polícia e tudo, detenções inclusive! Afi nal quem semeia colhe e os nossos fi lhos devem ser os nossos verdadeiros continuadores, pelo que nada de espantos nem alaridos... Tal como os responsáveis da CNE e STAE fazem em vésperas de eleições, os gestores do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano também dias antes dos exames tiveram direito a tempo de antena para falar de transparência no processo e para os alunos evitarem fraude…
Me recordei do tempo em que fi z a minha Quarta Classe. O nosso professor nem tinha direito a acesso às imediações da sala onde estávamos a ser avaliados por “estranhas branquinhas” que até vinham da capital provincial. Posso jurar de pés juntos: nenhum de nós(alunos) sabia o que era essa coisa de fraude académica e nos vangloriávamos, de verdade, com a passagem de classe, merecidamente.
Hoje por hoje FRAUDE está na boca de qualquer discente, desde o primário até ao universitário, ao candidato a docente, enfermeiro, médico, juiz, procurador… tudo, tudo e andamos por aí a proclamar que TEMOS TUDO PARA DAR CERTO. Tudo bem. Efectivamente, a estes passos MOÇAMBIQUE AVANÇA… Mas cá para mim, me perdoem porque continuo a acreditar na máxima changana segundo a qual Aminthiru “ivulavula” kutlula marithu (Os actos “falam” mais alto que as palavras).
PS:
Pode dizer-me, por favor, o caminho que devo tomar?” “Depende de para onde quer ir,” disse o Gato. “Isso não me importa,” disse Alice. “Então não interessa o caminho,” disse o Gato.
Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas
CM – 13.12.2019