Familiares de guerrilheiro da Junta Militar terão sido sequestrados, na segunda-feira (16.12). Matsangaíssa acusa Presidente de Moçambique e líder da RENAMO de serem mandantes. RENAMO diz não conhecer o guerrilheiro.
Esta sexta-feira (20.12), André Matsangaíssa Júnior, sobrinho do finado líder histórico da RENAMO com o mesmo nome, disse à DW África, por telefone, que os quatro membros da sua família ainda não foram libertados.
"[Eles têm de] retirar os meus filhos do cativeiro para viverem. São inocentes," exigiu.
Matsangaíssa voltou a prometer retaliações caso a sua família não seja libertada até ao fim do dia.
"Se o Governo moçambicano quer que estas escolas de 1ª à 7ª continuem no próximo ano a dar aulas as crianças, libertem os meus filhos para também irem à escola. A resposta, o povo moçambicano vai ver. Vamos ver - eu e o povo, Ossufo e o povo e Nyusi com o povo - quem vai ser o primeiro a reclamar. Porque estou nas matas, estou com armas e disparo," ameaçou.
Acusações a Nyusi e Momade
Entretanto, o guerrilheiro adiantou que espera a reação daqueles que considera serem os prováveis mandantes do crime.
"O que eu vou fazer é esperar o resultado de Ossufo Momade que mandou [sequestrar] e [Filipe] Nyusi, que é o Presidente de Moçambique, para intervirem neste caso," concluiu.
André Matsangaíssa Júnior preferia que tivessem sido ele o raptado.
"Em que país o filho de um militar é raptado mortalmente porque o pai está na guerra? Porque não perseguem o pai? Como os problemas do pai afetam o filho que está em casa? Eu recordo que quando era criança e o meu pai e o meu tio estavam na guerra, eu nunca fui preso, não houve um dia em que não fui à escola porque o meu pai estava na guerra," recordou.
"A FRELIMO sabe muito bem 'quem está a disparar é aquele'. Porque não persegue a mim para perseguir os meus filhos?" criticou o guerrilheiro que acusa ainda o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, de serem os mandantes dos sequestros que dizem ocorrer regularmente na região centro do país.
"Quem manda sequestrar qualquer membro da RENAMO são Ossufo Momade e Filipe Jacinto Nyusi. Casas de pessoas inocentes estão a ser queimadas, pessoas estão a ser mortas. Eu tenho informações de pessoas que foram tirar três mil e cem inocentes que não sabem de nada, só porque a RENAMO passou por ali. Mas olha lá: Se a RENAMO passa por uma comunidade, quem chama é o povo?" argumentou.
Denúncia e contato com os raptores
No começo da semana, André Matsangaíssa Júnior denunciou o suposto rapto de quatro membros da sua família. De acordo com ele, o crime aconteceu na noite da última segunda-feira (16.12) na sua residência, localizada nos arredores da cidade de Chimoio, na província central de Manica.
"Eles foram para Chimoio, perseguiram e raptaram. À noite pelas 19 horas, levaram a senhora e os meus filhos todos," descreveu à DW África.
O guerrilheiro que integra atualmente a autoproclamada Junta Militar da RENAMO, um grupo descontente dentro do maior partido da oposição moçambicana, disse ter já entrado em contato com os raptores, que lhe disseram pertencer às Forças de Defesa e Segurança posicionadas no distrito de Vanduzi, também na província de Manica.
Matsangaíssa contou ainda que os sequestradores pediram-lhe dois milhões de dólares de resgate. E, em caso de incumprimento, ele próprio teria de se entregar até a passada quarta-feira (18.12) como moeda de troca.
"Eu ligo, insisto e alguém responde. Diz: 'sou do comando de Vanduzi. Os seus filhos estão nas minhas mãos. Tem quanto para eu soltar a sua família? Se você quer vir com dinheiro [para pagar o resgate], tem de vir com dois milhões de dólares. Se não tem esse valor, até a quarta-feira você tem que vir pessoalmente. Você fica, os seus filhos vão," relata André Matsangaíssa Júnior a conversa que teve com os supostos sequestradores.
Entretanto, o guerrilheiro garante que não vai pagar nenhum valor e nem irá se entregar.
"Não pago o dinheiro, em primeiro lugar. Em segundo, não vou me entregar", afirmou.
RENAMO desonhece Matsangaíssa Júnior
Entretanto, o delegado da RENAMO em Manica, António Lima, assegurou à DW África que o clima político que se vive dentro do seu partido na província é bom e que não abre espaço para acusações e raptos.
"Dizer que existe algum clima que - pelo menos para nós, membros da RENAMO - não esteja bom, isso não é verdade. E dizer também que é na RENAMO onde alguém "vendeu" ao outro – [a dizer que] o Fulano X está no sítio X - isso também na província de Manica não existe," defendeu.
António Lima afirmou ainda não conhecer André Matsangaíssa Júnior.
DW – 20.12.2019