Por Edwin Hounnou
Depois da publicação do Canal sobre as ofertas de três viaturas de luxo de alta cilindrada, no valor de 50 milhões de rands, mais de um palacete aos filhos do Presidente Filipe Nyusi, por António Carlos do Rosário, super-PCA das empresas fantasmas – EMATUM, MAM e PROINDICUS – caiu por terra a minha última dúvida de que o povo merecia outra sorte e não andar a sujeitar-se a ser governado por autênticos javalis, uma corja de corruptos que se socorrem do Estado para atingir fins inconfessáveis.
Nyusi não sabia que os seus filhos estariam, também, a comer do prato das dívidas odiosas? – Sim, sabia perfeitamente do que estava a acontecer. Se não sabia, então, não é bom gestor de família e, por analogia, podemos concluir que é muito mau como chefe do nosso Estado.
O grande papá Nyusi não pode vir a público dizer que desconhecia tudo isso, como tentou fazer em entrevista que cedeu em Lisboa. Ele sabia que para além dele próprio, os seus filhos se mergulharam nos benefícios do calote.
Voltamos a perguntar, quem não comeu de entre a escumalha da Frelimo? – Todos comeram com uma colher grande e chutando a bola para frente, adiantam a pagar a dívida deles com fundos públicos, alegam que querem ficar bem no mercado de capitais, lixando o povo que em nada beneficiou da roubalheira. Eles arranjaram as suas dívidas pessoais e o povo é obrigado a pagar a vida folgada que os tipos levam.
Com o dinheiro roubado construíram mansões e o povo que mal consegue pôr o pão na mesa paga a factura. Em eleições livres e justas Nyusi e Frelimo passariam. O povo não se esquece de gatunos que lhe infernizam a vida. Não pode haver maior vergonha que um povo ser governado por gatunos.
Não é por acaso nem é por vontade de Deus que o nosso país tem vindo a regredir em todos os aspectos. Estamos, agora, na cauda em todas as organizações de que fazemos parte e isso se deve à maneira errada como estamos a ser dirigidos pela Frelimo cujos dirigentes perderam a vergonha de roubar e a noção de Estado de Direito e Democrático. O país foi transformado numa verdadeira capoeira aberta dos dirigentes do partido Frelimo onde cada um mete a mão e tira o que bem quiser, sem temer quaisquer escoriações nem mesma da lei porque eles estão não só acima da lei como também por cima dela e se protegem quando, no horizonte, aparece algum perigo ou ameaça. Quando acossados, eles se juntam para se defenderem, como está a acontecer para livrar Manuel Chang das garras da justiça norte-americana em que jogam tudo ou nada.
A inauguração do segundo mandato de Nyusi, prevista para 15 de Janeiro próximo, marca a reintrodução, no país, do sistema multipartidário de facto, deitando por terra abaixo as conquistas que o povo havia conseguido desde 1994, depois de uma feroz guerra entre os moçambicanos.
A guerra dos 16 anos surgiu como resultado da falta de liberdade e a ausência de liberdade expressão, de associação e de pensamento faz parte do modus de estar do sistema multipartidário e o seu retorno representa um duro golpe às conquistas democráticas, até aqui conseguidas pelo povo. Em nada a Frelimo cedeu de livre e espontânea vontade, desde o sistema multipartidário à liberdade de pensar, de organizar-se em partidos e coligações foi a ferro e fogo e a tudo isso não se deve deixar ruinar por ganância de quem quer que seja.
A pouca liberdade que ainda gozamos não é dádiva da Frelimo. Não devemos que a Frelimo nos roube o nosso futuro. O povo, os partidos e as organizações da sociedade civil deveriam se empenhar a fim de recuperar o terreno perdido, em particular, no tempo de Armando Guebuza e com grande destaque na governação de Nyusi que transformou Moçambique em precipício e, muito certamente, num dos piores lugares do mundo para se viver, onde a vida pesa menos que uma pena de andorinha.
Agora, mata-se por tudo, basta estar desalinhado com o poder para constar da lista dos candidatos a assassinar. Superamos os patamares do sistema colonial-fascismo em que era perigoso não pertencer ao regime. Desde a independência nunca um agrupamento de forças especiais foram treinadas para raptar e assassinar a quem pensasse diferente, porém, hoje temos os esquadrões da morte espalhados por todo o país para assassinar os que se opõem à Frelimo. Os mais sortudos partem-se-lhes os membros com aviso para deixarem de falar muito.
Falar muito significa pensar e expressar de modo diferente da Frelimo. Era muito difícil imaginar que pudéssemos regredir até a tal nível de intolerância em que tudo se parece com os primórdios da independência. Nessa altura, era sacrilégio andar desalinhado do pensamento oficial.
As novas elites da Frelimo morrem de saudades dos tempos em que só elas tinham o privilégio de ocupar os órgãos públicos de comunicação social e se atribuem altos cargos como prémio pelos serviços de vassalagem.
Nyusi que chega ao segundo mandato através de eleições fraudulentas – enchimentos de urnas com votos falsos, açambarcamento dos órgãos eleitorais e das instituições públicas, incluindo a polícia – não está em condições de garantir a gestão da coisa pública. Tem as mãos sujas de corrupção e o lugar de um corrupto é cadeia. A Ponta Vermelha deve ser um local de boas referências e não um antro de corrupção onde se traçam estratégias de como defraudar o povo. A Ponta Vermelha virou um lugar de fortes suspeitas de manobras que prejudicam o povo e país.
Em Estado de Direito e Democrático, Nyusi teria sido impedido de tomar posse para o segundo mandato e obrigado a interromper o presente mandato. Em Moçambique, a corrupção não constitui crime. Devemos entender que tudo não passa de uma brincadeira de adultos jogando à polícia ladrão, num esforço quase titânico para enganar os mais distraídos.
Um corrupto não combate a corrupção porque ele é o seu agente promotor. Acreditar que os corruptos se batem para eliminar a corrupção é uma ingenuidade só comparável como o acreditar no Pai Natal que traz prendas pela chaminé na noite de Natal. O que assistimos não nos deixa enganar. O povo não deve delegar o combate à corrupção a corruptos. O combate contra a corrupção é tarefa do povo, a começar por exigir eleições livres, justas e transparentes.
Esta missão não ser confiada a estes órgãos eleitorais. O STAE, CNE e o Conselho Constitucional devem ser fundados em outros princípios – as equipas em jogo não devem ser árbitros e jogadores, ao mesmo tempo.
Esta é a base do nosso problema que tem levado a confrontações entre os militares governamentais e a guerrilha da Renamo. O povo tem de despertar do sono para expulsar os caloteiros e fraudulentos do trono. A liberdade não cai do Céu, nem será uma doação da boa vontade dos nossos vorazes espoliadores, mas sim, uma conquista através de uma luta abnegada de todos nós.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 25.12.2019