O vice-presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique alertou hoje para as consequências dos ataques em Cabo Delgado, considerando que a violência armada gera a perceção de insegurança para quem quer investir na região.
“Os ataques já têm um certo impacto na indústria porque criam perceção de insegurança e instabilidade”, disse Florival Mucave, vice-presidente da CTA com o pelouro dos Recursos Minerais, Hidrocarbonetos e Energia, em entrevista à Lusa.
Para Florival Mucave, a perceção de instabilidade naquela região tem impactos graves para o ambiente de negócios, na medida em que quem investe quer garantias de segurança.
“É muito importante não só que haja estabilidade, mas também que se trabalhe na perceção da estabilidade”, frisou, alertando para impacto das mensagens e informações que circulam nas redes sociais e outros canais transmitindo a ideia de “total insegurança e instabilidade”.
“É preciso garantir que as pessoas entendam que há estabilidade e ela vai permanecer”, frisou Florival Mucave, que, embora admita insuficiências e limitações por parte das pequenas e médias empresas moçambicanas para aproveitar a exploração de gás natural no país, vê nos projetos o anúncio de uma “nova era”.
“A entrada das pequenas e médias empresas tem muitos desafios por ser uma indústria nova. Vai exigir muito das empresas moçambicanas em termos de capacitação, adquirir conhecimento, mas não é impossível”, acrescentou.
Na província de Cabo Delgado, decorrem construções da futura 'cidade do gás', um dos maiores investimentos privados de sempre em África, cujas previsões indicam que pode ascender a 50 mil milhões de dólares (mais de 45 mil milhões de euros).
Os trabalhos de consórcio petrolíferos liderados pela Total, Exxon Mobil e Eni movimentam cerca de cinco mil trabalhadores, segundo anunciado pelas empresas, sobretudo em obras de construção civil, que incluem alguns empreiteiros portugueses.
Numa ação concertada com petrolíferas, o Governo tem intensificado a resposta militar com apoio logístico da Rússia contra grupos desconhecidos que têm protagonizado ataques deste outubro de 2017 em distritos daquela província, mas a violência continua e está a perturbar as obras na península de Afungi.
Pelo menos 300 pessoas já morreram, segundo números oficiais e da população, e 60.000 residentes foram afetados, muitos obrigados a deslocar-se para outros locais em busca de segurança, segundo as Nações Unidas.
LUSA – 21.12.2019