Por Major Manuel Bernardo Gondola
É impossível falar sobre corrupção sem que se fale sobre ética e moral. Mas, enfim cada coisa no seu tempo; vou por partes.
Primeiro, o que vem a ser corrupção. É muito importante definir que a corrupção, ela é sempre uma possibilidade ela não é uma obrigatoriedade. Ou seja, quem se corrompe não o faz obrigado faz por livre e espontânea vontade e obviamente para defender suas [interesses] pessoas. E a pergunta muita feita pelos meus alunos, pela sociedade como todo é a de que, se, o poder tem a capacidade de corromper o ser humano. O poder, o dinheiro, essa condição se teria realmente a condição de corromper o ser humano. E, ai a resposta para essa pergunta é uma resposta muito directa. Bom! Primeiro precisamos definir que o homem que se vende, ele vale muito menos do que pagaram por ele. Seja homem, seja mulher enfim. A pessoa que se corrompe, a pessoa que se vende, ela vale muito do que pagaram por ela. Isso é um facto.
Eu vejo a questão política no nosso País, ter chegado nessas condições, ter chegado nesse momento, ter chegado nessa deturpação, nessa podridão tão grande. Todos os dias agente ouve o noticiário; é fraude na escola, é fraude nos transportes públicos, é fraude no posto de saúde, é fraude na ponte que acabou de construir. Ou seja, se conseguem fraudar quase tudo. Mas a corrupção não é assim um mérito nosso; não acontece só em Moçambique acontece no mundo todo aonde existe o ser humana existe a possibilidade da corrupção existir. Isso é um facto.
Porém, o problema é que no nosso País nós temos uma [deficiência] muito grande nos mecanismos fiscalizadores. Eles não funcionam ou eles também fazem parte do mecanismo de corrupção, eles também são corruptíveis na maioria das vezes mas…, graças a Deus temos o «Marufo» preso. , cpo
Não havia, digo tão importantíssimo a definição do que é moral e o que é ética dentro desse cenário, porque elas são fundamentais para ajudar a explicar o porque o ser humano se corrompe.
Então, o que vem a ser ética? A ética na verdade é o conjunto de princípios e valores que norteiam as nossas decisões, norteiam nossas acções. A ética tem objectivo de organizar, orientar a sociedade. Por isso que é impossível ter a ética singularmente falando. A ética precisa do [plural], ela precisa sociedade é impossível haver ética para o indivíduo só. O indivíduo precisa estar inserido numa sociedade para que os princípios éticos sejam estabelecidos. Exemplo é antiético, você furar [desobedecer] um sinal vermelho. Todos sabemos disso é uma regra de trânsito e o princípio ética determinado pela sociedade e quando você vê alguém furando o sinal vermelho, significa, que a moral desse cidadão não permitiu que ele respeitasse um princípio ético já estabelecido.
Então, a moral dele permite que ele faça isso muitas vezes, inclusive sem nenhum ónus [peso]. Ele faz isso com bastante naturalidade e quando agente leva esse exemplo para a esfera política a lógica é a mesma. «Não se apropriar de algo que não é seu, é um princípio ético é um princípio ético da sociedade». Agora, quando você vê uma mala com [52] milhões de meticais que seriam utilizadas para propinas, seria utilizada para comprar pessoas, comprar processos, comprar sistemas e tudo mas ai você percebe, que esses indivíduos não estão respeitando esses factores éticos já estabelecidos. De facto, qualquer um sabe que isso é antiético. A questão é que, a moral da pessoa não o permite que respeite esses princípios.
Portanto, definindo resumidamente. Ética, é a parte teórica do processo e moral, é a parte prática. É facto que me apropriar de algo que não é meu é um princípio ético; quando eu corrompo esse princípio estou faltando com a moral. Ou seja, a minha moral fez com que, eu não obedecesse um princípio ético.
Da mesma forma, o poder tem a capacidade sim dê-te seduzir a corromper mas…, ele não te obriga a fazê-lo. Essa é uma grande diferença. Vou repetir. O poder, ele seduz, ele tem a capacidade de seduzir você a se corromper mas…, ele não te obriga. Ou seja, ele te dá a condição de escolher: está sobre a sua tutela [consciência] a condição de escolher se corromper ou não. , cpo
Então, está definida essa questão. Não se trata de obrigatoriedade apenas unicamente de uma decisão que vai reverberar obviamente em consequências que nesse caso da corrupção. As consequências serão realmente para o indivíduo como agente pode ver no caso do «Marufo» que está preso, devidamente preso porque se corrompeu. É óbvio tem muitos outros ainda que também participaram nesse processo que ainda estão sendo [objecto] de investigação e…, Deus queira que logo logo eles também sejam presos. Mas…, isso faz parte de um processo. Executo uma actividade elícita eu tenho que ter a compreensão de que, a possibilidade de eu pagar por ela, de eu assumir o ónus por ela e esse ónus pode inclusive o cerceamento da minha liberdade.
De facto, todas as pessoas são [passíveis] desse corromperem. Todas! Eu e você.
Milhares de pessoas todos os dias no País e no mundo todo são seduzidas a se corromperem. Todos os dias milhares e milhares delas não se corrompem; como eu e como você e…, enfim…
Na verdade, isso vem duma educação que não lhe permite isso. «O que é meu é meu, o que é do outro é do outro». Mas…, infelizmente no País nem todos pensam assim, por isso os problemas. Mas, todos os dias milhares de pessoas são seduzidas a se corromperem e não se corrompem. Porque não se corrompem!? Pela educação que tiveram, pela formação que tiveram e muitas vezes elas até passariam por isso, elas mesmo até tendo educação, mesmo tendo princípios, mesmo tendo uma moral muito elevada, uma família resistente, uma família determinante e firme por traz ainda assim elas poderiam se corromper mas os mecanismos, que estão ao redor delas em Países desenvolvidos cito agora as impedem, as colocam medo. Na verdade, as impõe medo delas realizarem aqueles actos porque sabem que serão pegas e serão punidas vigorosamente. E, enfim…, isso coloca medo.
E aí a palavra que vem definir muito bem isso tudo que estou tentando aqui dizer é [impunidade]. No nosso País infelizmente quem têm condições, quem tem dinheiro, quem tem recurso para pagar bons advogados; acaba não tendo tanto medo desses actos porque consegue estender os prazos, consegue estender os recursos por muito tempo e…,acaba não temendo por isso, a surpresa de todos: «estamos tão animados uma vez que, as esperanças nossas se renovaram à medida, que temos uma antiga Ministra, Directores, Orientadores e Empresários presos. Devidamente presos coisa , cpo que não acontecia, coisa que é inédito no nosso País ter umas pessoas de alto escalão sendo presos por actos ilícitos».
Mas…, ao mesmo tempo é possível eliminar a corrupção? Essa pergunta é óptima. Será, que é possível eliminar a corrupção do meio do ser humano?
E…, a resposta que eu tenho para essa questão diante aos estudos [leituras] que eu venho realizando ao longo destes anos, me diz que não. Ou seja, é uma resposta muito [triste] eu sei mas…,não é possível. A corrupção é intrínseco ao ser humano. Seja aqui, seja em qualquer País do mundo.
A questão é que se nós tivéssemos que tirar a corrupção do meio do ser humanos nós também teríamos, que tirar a liberdade dele. Totalmente a liberdade. Porque o ser humano como uma [fagulha] de liberdade, ele já está apto a se corromper. Infelizmente.
Aqui vocês me permitem, posso utilizar como exemplo, os primeiros seres humanos do planeta. Se voltarmos lá para Adão e Eva, nós vamos ver uma situação de corrompimento lá ainda. A primeira família a pisar na terra, a existir já se corrompeu diante de uma [regra] muito explícita de Deus; vocês conhecem essa história. A história do jardim, aonde Deus deixa muito claro, que eles podem consumir todos os frutos daquele jardim, excepto um.
Deus deixou à disposição deles dezenas e centenas de frutos ali e eles decidiram consumir justamente aquele que Deus proibiu. E…, Deus estabeleceu ali que, se aquele fruto fosse consumido haveria consequências; ainda assim, eles assumiram o ónus da consequência. Desde então a humanidade vem sofrendo essa história ao longo dos séculos. Ou seja, a corrupção faz parte da nossa história desde que a humanidade é humanidade. E…, é impossível elimina-la o que é possível e necessário é controla-la.
Ou seja, criar mecanismos de fiscalização eficientes, incorruptiveis, vigiados, auditáveis, que eliminem essa possibilidade da pessoa se corromper e…, é tão simples. Como! Agente vê por exemplo no meio bancário. Dentro do estabelecimento bancário existe enumeras câmaras; se não reparou começa a perceber e depois em cima dos caixas você vai ver enumeras câmaras também focando nas mãos dos funcionários. Quer dizer, dentro do ambiente como esse a existência de fraude é quase , cpo
que nula porque a sequência de recursos [alocados] para eliminar a possibilidade de rompimento é gigantesca.
Então, porque é que nós não aplicamos isso nos demais factores da sociedade, que tanto necessitam? No trânsito, por exemplo; existem inúmeros lugares nos centros das cidades [Maputo, Beira e Nampula] aonde a fiscalização poderia ser feita por câmaras em larga escala. E…, agente vê isso nos noticiários na tevê, jornais e na rádio muitas vezes um acidente e seria desvendado; quem errou e quem deixou de errar por conta das imagens.
Veja! Se a pessoa por ali está passando e sabe que naquele espaço, naquele ambiente existem câmaras, que estão monitorando obviamente ele já vai-se cercear, ele vai repensar cinco vezes/seis vezes antes de cometer alguma fraude [infracção] porque ele sabe que está sendo vigiado.
Portanto, o que nós precisamos seja uma sociedade como um todo mas, principalmente no meio político, principalmente no poder público, na expressão do poder público. No mandato seja do vereador, seja dum Deputado, sejam do Governador, seja do Ministro, seja do Secretario de Estado, sejam de um [Presidente da república], são mecanismos que tem uma condição de fiscaliza-lo e demonstrar essa clareza essa fiscalização para quem mais interessa: que somos nós o [povo].
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, [26] de Janeiro 20[20]