A Samherji, empresa de pescas islandesa, que está no centro do maior escândalo de corrupção da Namíbia, anunciou que vai sair do país.
O anúncio foi feito na sexta-feira, 17, dois meses depois de o ex-ministro da Justiça, Sakeus Shanghala, e o ministro das Pescas, Bernardt Esau, e outros dois antigos empregados da empresa sul-africana Investec terem sido presos.
Os quatro estão detidos desde Novembro, depois de alegações de que conspiraram com a empresa islandesa para receber pagamentos no valor de 100 milhões de dólares namibianos, equivalentes a 6.92 milhões de dólares americanos, em troca de quotas na pesca de carapau.
Sem detalhes de quanto tempo vai levar o processo, o chefe executive interino disse em comunicado que a empresa de pescas islandesa está a desenvestir da sua operação na Namíbia.
Entretanto, a Samherji, que negou má conduta, tal como negaram Esau e Shanghala, disse ter tomado medidas no sentido de implementar uma governança corporativa e um sistema de conformidade, "com foco em anti-corrupção, sanções económicas e anti-lavagem de dinheiro".
Angola no esquema no corrupção
O esquema das quotas do carapau, exposto pela Wikileaks começou em 2014, incluía familiares de ministros e outras autoridades, de acordo com os documentos publicados em jornais na internet.
Os seus promotores usaram um acordo bilateral entre Angola e a Namíbia para obter quotas da Samherji de dezenas de milhar de toneladas por ano de carapau, dizem os documentos.
Segundo outras notícias, Esau, então ministro das Pescas, retirou quotas de pesca de algumas empresas privadas e concedeu-as à empresa estatal de pescas Fishcor, que depois passou as quotas para a islandesa Samherji em troca de pagamento.
VOA – 18.01.2020
Corrupção no sector das pescas na Namibia envolve angolanos
João de Barros, filho da antiga ministra das escas de Angola, Victoria de Barros Neto, foi um dos beneficiários do esquema de corrupção que envolveu a Namíbia, Angola e uma companhia da Islândia, revelou o jornal The Namibian.
O escândalo envolve contratos de pesca assinados pela antiga ministra entre Angola e Namíbia em 2014 que resultaram recentemente na demissão de dois ministros namibianos.
Os acordos envolvem um total de 170 milhões de dólares, a empresa nacional de pescas da Namíbia e a empresa Namgomar, uma alegada joint-venture dos dois países e chefiada por Ricardo Gustavo, da companhia de investimento Investec Asset Management.
A Namgomar foi uma empresa criada para atribuir licenças e quotas de pesca entre os dois Governos que foram, contudo, usadas por entidades privadas e a nível pessoal.
Segundo os documentos os angolanos envolvidos beneficiaram de um esquema que visava essencialmente enriquecer os ministros namibianos e os seus próximos.
Johannes Stefanson, antigo funcionário da empresa islandesa que divulgou os documentos, afirma que o acordo bilateral foi feito “para criar rendimentos para pessoas-chave na Namíbia e em Angola, mas principalmente na Namíbia”.
A Namgomar vendeu as quotas de pescado doadas pela Namíbia a Angola a uma companhia de pesca da Islândia muito abaixo dos preços de mercado e depois pagou comissões de consultoria.
Uma companhia com o nome de uma região turística angolana, Tundavala, foi registada no Dubai para canalizar cerca de 10 milhões de dólares de comissões de consultoria.
Documentos confirmam envolvimento de João de Barros
Os nomes das pessoas envolvidas, incluindo Victoria e João de Barros, estão contidos em e-mails, recibos de pagamentos, facturas e contas bancárias fornecidos pela organização Wikileaks ao jornal The Namibian e outros órgãos de informação.
“E-mails mostram que João de Barros beneficiou da Nangomar”, garante o jornal.
Os documentos agora revelados indicam que João de Barros acompanhou o director da Investec, James Hatuikulipui, o ministro da justiça da Namíbia, Sacky Shangalala, e o genro do ministro das Pescas da Namíbia numa visita à Islândia em 2013 durante as negociações.
Um ano mais tarde, Hatuikuilipui enviou um e-mail ao director da companhia islandesa a insurgir-se contra o facto de a empresa ter levantado dúvidas sobre a necessidade de se fazer pagamentos adiantados a Angola.
“Temos os ministros de Angola e Namíbia a trabalharem para assegurar que vamos ter acesso a esses locais de pesca”, escreveu James Hatuikulipui, avisando depois que as dúvidas da companhia islandesa poderiam pôr em causa o acordo com Angola.
Mais tarde, já depois de o acordo ter sido assinado, os namibianos disseram à companhia islandesa que “temos que preparar um plano para a Angola e administrar os parceiros angolanos e as suas expectativas”.
“A oportunidade que temos em Angola e na Namíbia não existe para todos. Antes de alguém acordar temos que avançar e ter um impacto. Isso irá proteger ambos os ministros”, diz uma nota agora divulgada
Em Janeiro deste ano, o Presidente angolano João Lourenço demitiu a ministra das pescas Victoria Barros, mas não se sabe se a demissão está ligada a este caso.
Na semana passada, os ministros das Pescas e da Justiça da Namíbia demitiram-se e as contas bancárias do ministro da justiça e do director da Investec James Hatuikulipui foram congeladas.
VOA – 11.11.2019