O líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) considerou que o país "não pode dar-se ao luxo de lidar com dois conflitos", um no Norte e outro no Centro, e defendeu um diálogo entre Governo e militares da Renamo.
"Moçambique não pode dar-se ao luxo de lidar com dois conflitos, um no Norte e outro no , porque esses conflitos vão-se consolidando e há provas concretas de que ninguém consegue acabar com a guerrilha", afirmou Daviz Simango, em declarações à Lusa em Lisboa.
O também presidente do Conselho Autárquico da Beira defendeu que o Governo e o Presidente da República "têm de liderar" um processo de diálogo com os militares Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), o principal partido da oposição.
"O acordo de 06 de agosto de Maputo [último acordo de paz assinado entre Renamo e o Governo de Moçambique, da Frelimo] foi mal feito. Porque este acordo esqueceu os atores principais (…) e como esses ataques prejudicam a nação inteira, o interesse é que haja diálogo", considerou.
"Em Moçambique havia um conflito porque havia homens armados. E não faz sentido haver acordos ignorando esses mesmos homens. Esses homens ficaram anos com o líder da Renamo, o falecido Afonso Dhlakama. Eles tinham compromissos, esperanças, perspetivas. Então não se pode ignorar isto", sublinhou, referindo-se aos militares da Renamo que, segundo Daviz Simango, estão por detrás dos ataques que ocorrem no centro do país.
Na opinião do líder do MDM, "é preciso chamar estes homens à razão e dizer-lhes: 'ok, houve falhas no acordo, digam lá qual é o vosso problema. Integração? Condições'".
"Não há nenhum preço que pague a paz. Tudo tem de ser feito para educar e criar a paz", realçou.
Outra coisa é o problema interno do partido Renamo, esse "cabe aos membros da Renamo resolverem", assinalou.
Neste caso, "o importante" para o líder do MDM é que "o Estado moçambicano não interfira nos problemas internos da Renamo".
Para o autarca da Beira, os ataques no Norte e no Centro do país "são totalmente divergentes e com interesses totalmente diferentes”, mas, “seja como for, o país não pode lidar com duas situações extremas".
"Se deixarmos isto prolongar-se por muito tempo, cria raízes e aí vai ser extremamente difícil de resolver. (...). As coisas ainda estão frescas e esta é a altura boa de as resolver", alertou.
O Presidente da República, Filipe Nyusi, disse na semana passada ser necessário dar um novo impulso ao processo de reintegração de ex-guerrilheiros da Renamo, dado que há potenciais doadores financeiros para o processo que estão "impacientes".
"Temos de falar rapidamente com a Renamo porque há impaciência dos que querem apoiar para poderem libertar os valores e apoiarem a reintegração", referiu aos jornalistas em Londres, após a cimeira Reino Unido - África.
Dos contactos que manteve, incluindo à margem da cimeira, indicou que "quase toda a gente" tem interesse em apoiar o processo de desmilitarização, desarmamento e reintegração (DDR) na sociedade.
O grupo que organiza a reintegração "está a trabalhar e agora terá de puxar mais um pouco [pelo cronograma], porque há essa impaciência dos que nos querem apoiar", sublinhou.
O processo de DDR faz parte do processo de paz que culminou com um acordo assinado em 06 de agosto entre Filipe Nyusi e o presidente da Renamo, Ossufo Momade.
O Presidente da República também afirmou, em dezembro que estava em contacto com Ossufo Momade, visando conter os ataques no centro do país.
Em causa estão os ataques que se têm registado nas províncias de Manica e Sofala, nos dois principais corredores rodoviários do país, a EN1, que liga o Norte ao Sul do país, e a EN6, que liga o porto da cidade da Beira ao Zimbabué e restantes países do interior da África Austral.
As incursões, que já causaram pelo menos 11 mortos desde agosto deste ano, acontecem num reduto da Renamo e as autoridades moçambicanas têm acusado os guerrilheiros do partido que permanecem na região.
Apesar de rejeitar qualquer ligação a estes ataques, um grupo dissidente (considerado "desertor" pela Renamo) liderado por Mariano Nhongo permanece entrincheirado na região, reivindicando melhores condições de desmobilização, exigindo a renúncia do atual presidente do partido, Ossufo Momade, e ameaçando pegar em armas.
LUSA – 30.01.2020