Muita desinformação!
O Presidente da República orientou, sábado, no distrito de Mueda, norte de Cabo Delgado, uma parada militar composta por elementos das Forças de Defesa e Segurança, em mais um evento que visou, essencialmente, moralizar as unidades que continuam a procurar fazer face aos ataques de insurgentes armados que têm lugar na região desde Outubro de 2017.
Não é a primeira, nem a segunda vez que o Chefe de Estado sente obrigação de, no terreno e in loco, dar ânimo às Forças de Defesa e Segurança, numa altura em que sobem de tom as críticas sobre a inoperância e até algum compadrio destas na acção macabra e terrorista dos insurgentes. Foi exactamente em torno da ideia que paulatinamente toma forma de que as Forças de Defesa e Segurança sejam parte do problema que o Chefe de Estado ateve maior parte do seu rápido e curto pronunciamento durante a parada.
Falou de “muita desinformação” e do que chamou “desrespeito” pelo sacrifício, bravura, sacrifício e entrega que as Forças de Defesa e Segurança têm estado a demonstrar no terreno. “Estamos a acompanhar os ataques dos malfeitores e a vossa resposta. Temos estado a constatar a estratégia inimiga que é de nos pôr em conflito com o nosso povo. Os malfeitores - não sei onde é que arranjam o fardamento, aliás pode-se compra r [tecido] e mandar fazer [fardamento militar]” – disse Filipe Nyusi, tentando negar a a teoria de que as Forças de Defesa e Segurança também têm estado a participar em ataques às populações civis.
Vezes sem conta são vistos elementos que compõem os supostos grupos insurgentes trajados de fardamento das Forças Armadas de Defesa de Moçambique e de algumas sub unidades da Polícia da República de Moçambique. A última imagem que apareceu a circular nas redes sociais e que não foi, em nenhum momento, desmentida pelas forças moçambicanas foi a de um insurgente morto de forma inadvertida por um companheiro seu. Quando na manhã seguinte, a população seguiu os rastos dos atacantes, apercebeu-se de um sepultamento recente e, desenterrando, apareceu o cadáver de um suposto insurgente trajado a exercito moçambicano, com a indicação Fuzileiros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. “Às vezes vergam fardamento das FDS só para dizer que a população está a ser atacada por vocês” – anotou Filipe Nyusi, saindo em defesa das Forças de Defesa e Segurança e reiterando a necessidade de todos os moçambicanos reconhecerem os êxitos que tem estado a ser conseguidos diante dos atacantes sem rosto.
Na defesa das forças por si dirigidas na qualidade de Comandante Chefe, Filipe Nyusi extravasou o discurso entrando para ataques aos que fomentam o que ele prefere chamar“desinformação” sobre as operações no norte de Cabo Delgado. Falou de pessoas sentadas no conforto e nas cidades que ousam em escrever o que considera inverdades nos seus jornais. Para Nyusi, os que assim procedem, talvez não tenham em mente o nível de sacrifício que o teatro operacional impõe.
No fim, Filipe Nyusi pediu e reiterou firmeza à tropa, ao mesmo tempo que exigiu que continuem correndo à busca dos cobardes sem rosto para que sejam conhecidos e a partir deles possa-se perceber mais profundamente de quem estão a serviço.
Com o conhecimento profundo de quem são, facilmente se vai passar para um trabalho mais objectivo e científico, saindo do que considerou campo de suposições e suspeições. “Numa casa onde não se conhece quem é o ladrão é difícil. Nós queremos conhecer essa pessoa para não haver desconfiança entre nós e, daí, construirmos confiança e uma frente para abordarmos estes inimigos comuns” – disse Nyusi, colocando tónica no sentido de se trabalhar para o conhecimento profundo dos atacantes que continuam a semear terror em Cabo Delgado.
MEDIA FAX – 27.01.2020