Por Major Manuel Bernardo Gondola
Moçambique é uma democracia nova. Faz só um pouco mais de [20] anos que implantamos uma democracia mais semelhante como em outros países. E assim como uma criança é natural que o País tropece e falhe durante o caminho. Para ser uma democracia forte, não é suficiente estar escrito no papel [Constituição] o País precisa prática e prática leva a mais perfeição.
Países com menos [corrupção] normalmente tem uma democracia há mais tempo e em seu desenvolvimento também tropeçaram. Mas, aprenderam, mudaram e melhoraram. Moçambique tem muito potencial, de ser uma democracia e País mais forte. E é natural que as coisas no itinerário falhem como parte do processo de aprendizagem. O importante nessa nossa fase não é se tem escândalo ou não, é, sim se aprendemos com isso. Há quem ache, que hoje não temos muito mais [corrupção] que antigamente o que temos é mais prova, ou seja, é mais fácil saber que ela acontece e mais difícil esconder por causa da impressa livre, uma democracia com instituições que a cada dia vão se solidificando que antigamente e novos meios de tecnologia.
Hoje vou falar de algumas coisas, que o povo moçambicano tem que fazer para ajudar no progresso do País. Sim! O povo e não só os políticos e os governantes. Os políticos hoje são meramente representantes do povo e em muitas maneiras as acções deles são [reflexos] das acções do povo. Povo corrupto, traz um Governo corrupto. Então, existem alguns vícios dos moçambicanos que todos nós precisamos mudar, para que assim possamos exigir que os políticos façam o mesmo.
Vício um. O carácter moçambicano. É muito provável, que você já tenha falado ou pelo menos ouvido essa frase. Ela vem do facto do moçambicano julgar, que ele pode [escapar] de alguma coisa; sendo alguma multa que não quer pagar, não precisando cumprir algum tipo de burocracia, pagando para obtenção da carta de condução, troca de favores para conseguir algo de maneira mais injusta. Enfim…,o moçambicano corta caminhos que ajudam a dar jeito desse safar de alguma regra. Geralmente envolve algo, que está naquele linha fosca entre moralidade e o que é errado. E muitos dizem, que depende do ponto de vista e conseguem racionalizar dizendo que não vai fazer mal a ninguém, isso é característica tão forte em Moçambique que o mundo todo sabe. Contudo, nos últimos anos, isso tem melhorado o moçambicano aprendeu a ser um pouco mais ético no trabalho, no trânsito, no dia-a-dia mas tem muito que melhorar ainda.
Vício dois. Impunidade. Isso não é coisa só de políticos. Muitos moçambicanos fazem coisas ilegais ou antiéticas porque acham que não vão ser punidos. Veja! Eu não estou dizendo que não temos leis suficientes. Somente que elas não são implementadas devidamente em alguns casos ou o cidadão não se importa muito com a punição. E isso não é particular do rico e do pobre. Alguns acham que podem estacionar sua viatura onde quiser [é rapidinho, ninguém vai notar], que não precisa enfrentar filas ou passar por algumas coisas burocráticas ou [chatas], que só o zé-ninguém tem que passar. Outro joga lixo na rua, pagam uma entrada quando não deviam, pulam nas carruagens, falham nos impostos etc. Todos esses actos entre outros não são exclusivos de uma tencionada classe social tem de tudo no País. Porque, talvez nada vai acontecer ou porque o vizinho também faz ou porque não vai ferir alguém, não quer dizer que você possa fazer.
Vício três. «Com quem você pensa que está falando?» Essa é uma frase que muitos moçambicanos infelizmente já usaram e ainda usam. «Você sabe quem sou eu? Você não faz ideia de quem eu sou?» Ou seja, mostra que o moçambicano antes de tudo, acha que é alguém que não merece [punição] e que deve receber algum tipo de tratamento diferenciado.
Tem um exemplo, que já se repetiu muitas vezes por ai. Um belo dia um senhor de alta classe estaciona seu carro numa vaga [lugar] de deficientes. Ele não é deficiente. O polícia de trânsito vendo pega e dá uma multa e quando o senhor [o chefe] recebe multa e grita com o polícia de trânsito como se ele fosse inocente e isento da punição.
«Você sabe com quem você tá falando!?» Ou seja, ele tenta mostrar que por algum motivo é uma pessoa melhor que outras.
Outro exemplo é o moçambicano achar que o Governo e outras Instituições devem providenciar [privilégios] para ele só pelo facto de ele ter nascido ao envés de adquirir por mérito e trabalho. Isso, infelizmente também faz meio que parte da cultura do moçambicano. Só para vocês verem a diferença em outros países mais desenvolvidos, o tipo de pergunta já muda. «Quem você pensa que é?». Ou seja, toda gente merece respeito, toda gente tem os mesmos direitos. «E quem você que se acha maior que a lei?»
Vício quatro. Moçambique é seguramente o País do futuro [esperança]. Umas das expressões mais conhecidas no País é esperança. Mas…, porquê que essa frase é um vicio? Ter esperança de um País melhor não é um mal. Agora! O mal é que muitos moçambicanos literalmente esperam. Ao envés de usar o significado real da palavra; esperançar, que significa correr atrás, não desistir, eles esperam sem fazer nada. Esperam, que alguém faça alguma coisa para mudar e se não o faz fica reclamando que o País está horrível. Quer dizer, é muito mais fácil culpar os outros.
Esse vício também tem a ver com o tempo e o facto de muitos moçambicanos quererem do Governo e do Estado um beneficiou imediato. Com isso, coisas que levam mais tempo para serem [alcançadas] não vale apena serem abordadas. Por isso, que muitos Governos criam políticas que afectam o imediato; tampam o buraco com a peneira sem muito resolverem o problema, somente durante os curtos anos que eles vão ficar no mandato. As pessoas querem e esperam que resultados bons vêm imediatamente, sem entender que para melhores resultados muitas vezes temos que investir e focar por alguns anos. Por isso, que políticos que dão dinheiro para a população ganham votos e aqueles que querem investir forte na educação por exemplo, não!
Então, olhe um pouco para seu próprio umbigo e pense em algumas situações mesmo que pequena em que você tenha feito algum tipo de corrupção. Destarte, o dia em que o povo moçambicano deixar esses vícios mais para trás, quem sabe nossos políticos e representantes também deixarão.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, [19] de Janeiro 20[20]