Fuga com justificação fundada na sobreposição de agenda
Hoje, quarta-feira, o Comando-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) devia conceder o habitual briefing semanal para falar do que a corporação denominada “caracterizaçãogeral da situação operativa no país”. Entretanto, a sessão não terá lugar.
A justificação estampada no documento que antecipa a informação de que hoje não haverá o habitual briefing é simples e lacónica: “sobrecarga de agenda”.
Entretanto, coincidência ou não, o facto é que desde que o semanário SAVANA publicou, na semana passada, a indicação de que afinal, tal como tinham sido prometidos, os agentes do Grupo de Operações Especiais (GOE) que assassinaram Anastácio Matavele tinham mesmo sido promovidos, a indignação colectiva e voluntária foi indisfarçável.
Nisso, jornalistas de muitos órgãos tentaram, sem sucesso, ouvir a explicação e uma justificação que se tenha por razoável na promoção dos polícias/assassinos. E esperava-se que, hoje, no briefing semanal, se pudesse questionar directamente o Comando Geral em relação ao assunto, mas, ao que tudo indica, a corporação preferiu voltar a fechar-se em copas, deixando a opinião pública formular as suas questões e fazer as suas próprias conclusões. Segundo escreveu o SAVANA, os próprios agentes sobreviventes disseram na primeira pessoa durante a instruçãodo processo, que a promessa pelo assassinato do activista social, Anastácio Matavele, não tinha nada a ver com dinheiro, mas sim com promoção na carreira.
Trabalho feito, tal e qual tinham sido prometidos, os três dos cinco agentes do GOE que sobreviveram ao acidente que se seguiu na fuga após a consumação do assassinato, foram efectivamente promovidos.
Entretanto, a nível do Comando Geral parece estar-se a preparar o argumento de o despacho de promoção dos três agentes ter sido, dois ou três dias depois [da promoção], revogado exactamente pelo facto de ter-se apercebido que nas listas constavam os nomes dos três agentes assassinos, dos quais dois encarcerados e um foragido.
Ou seja, está-se a preparar a versão de que a lista proposta tinha sido feita há muito tempo, mas por razões relacionadas com cabimento orçamental, os despachos ficaram por algum tempo na lista de espera. Quando houve o referido cabimento, segundo a versão em preparação, o Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael, simplesmente assinou, a 27 de Dezembro de 2019, os despachos e pronto.
Genuína ou não a versão em preparação, o facto mesmo é que a promessa da promoção na carreira foi concretizada dois meses depois da consumação do assassinato daquele cuja culpa conhecida é simplesmente ter-se posicionado como cidadão que pensava, e pensava diferente do establishment imposto pelo poder do dia.
MEDIA FAX - 29.01.2020