Cartas ao Presidente da República (1)
EUREKA por Laurindos Macuácua
Bom dia, Presidente. Esta é a minha primeira carta neste mandato iniciado ontem. As do outro mandato guarde. Se as não leu, terá tempo suficiente para fazêlo, depois deste mandato. Aliás, poderá encontrar ai, de certa forma, o barómetro daquilo que terá sido a sua governação. Quisera eu inaugurar este mandato felicitando-lhe sobre a sua “vitória” retumbante- ainda que questionável. Mas como? O comboio continua descarrilado…
Vou directo ao ponto: eu acho que o comandante-geral da PRM, o senhor Bernardino Rafael, pifou de vez, já não sabe o que diz, nem o que faz e quando faz. Ou melhor: comporta-se como um adolescente indisciplinado, que diz uma coisa de manhã, para se desmentir à tarde. Estava ou não consciente o Bernardino Rafael quando assinou a promoção de Edson Silica e Agapito Matavele, agentes da Polícia afectos ao Grupo de Operações Especiais (GOE) que assassinaram macabramente o pobre activista social de nome Anastácio Matavel?
É que agora diz que não chegou a ler o expediente da promoção, ou seja, assinou às cegas conjuntamente com outros expedientes vindos de diversos cantos do País. Quer dizer que temos um comandante-geral que despacha documentos de tamanha ensibilidade sem ter lido? Que conte outra.
Ele apercebeu-se que fez asneiras porque o povo indignou-se, a imprensa escreveu. Por isso que diz que revogou as nomeações, mas nega mostrar o documento que assim garante, alegadamente porque é institucional. Se mostrasse o documento o que iria acontecer? Deixava de ser autêntico? Ele é seu subordinado.
Diga-lhe, Presidente, para mostrar, publicamente, o documento. Escondendo-o (se é que existe), não ganha nada. Adensa ainda mais a desconfiança de que ele é o chefe dos esquadrões da morte entrincheirados na Polícia da República de Moçambique (PRM). Portanto, Bernardino Rafael não só é mau polícia como, igualmente, é péssimo comandante, um chefe da Polícia irresponsável, que não se preocupa com a sorte dos seus próprios agentes! Digo isso porque o papel ridículo desta vez coube a Orlando Modumane, porta-voz do Comando-Geral da PRM, que teve que dar a cara para afirmar que o seu chefe não tinha intenção de promover os assassinos que promoveu.
Se o povo não conhecesse o tal de Bernardino Rafael ainda era capaz de acreditar no que Modumane tentou dizer. Mas, o facto verídico é que nem o próprio Modumane acredita na mentira que esteve a veicular. Portanto, não bastam as mentiras que Bernardino Rafael propala em público, como manda Modumane, também mentir publicamente! Presidente: o homicídio de Anastácio Matavel provocou repúdio e condenação em Moçambique e fora do País, por se tratar de um activista da sociedade civil envolvido na observação eleitoral e que morreu durante a campanha para as eleições, numa província conhecida pela intolerância política contra opositores da Frelimo.
E vocês ainda colocam mais achas na fogueira ao promoverem esses assassinos e quando são descobertos e denunciados dizem que se tratou de uma falha. Essas trapalhices, meu Presidente….
DN – 31.01.2020