EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (5)
Os que amiudamente violam a nossa correspondência, devem se ter perguntado por que ele escreve tanto ao Presidente.
A minha resposta é para si, Presidente. Não o faço meramente porque me apetece, ou pelo inútil exercício de um diletantismo que me é saboroso; é por indignação! É preciso uma reforçada dose de coragem para viver e ainda ter tempo de escrever em Moçambique!
Hoje lhe vou dizer de frente o que até agora tenho andado a cochichar a alguns amigos e sempre rigorosamente nas suas costas: o Presidente é uma fraude, senão um tratante. Tem-nos enchido de narrativas viciantes e ao fim do dia vemos só navios.
Como é que o Presidente fala de combater a corrupção, quando mais parece que quer se combater? Honestamente, não gostei do que li nos jornais esta semana: as empresas da família Nyusi, desde que tomou posse para o primeiro mandato, triplicaram. Todavia, algumas dessas empresas só existem no papel, nas pastas que os seus filhos carregam diariamente de um lado para o outro. Endereço físico zero.
Mas diz o senhor que está mais do que preparado para combater a corrupção. E esse filme de baixa qualidade o povo moçambicano já viu sendo Armando Guebuza o protagonista. Guebuza dizia-se combatente número um da corrupção, do deixa-andar e blá, blá, bá, mas, ao fim do dia, revelou-se uma grande fraude.
Ele também foi apanhado várias vezes nas malhas da corrupção e tem o seu filho agora preso pela maior vergonha que o País está a passar. E o Presidente parece estar a seguir as mesmas peugadas: um Presidente com bolsos cheios de compadrios. Sempre ao lado da trapalhice. Alinha-se na fila indiana da mentira. Um oportunista que nada sacrifica em favor de ninguém.
Isto tudo eu nunca lhe disse, Presidente, mas me tenho fartado de andar a dizer aos amigos! Dizia o bom de Alexandre Dumas (conhece-o, Presidente?) que «a honestidade é a maior de todas as malícias, porque é a única que os maliciosos não prevêem». Como é verdade!
E como ficaria aborrecido com isto: Ah, a Frelimo: teimosa raça de desonestos que vocês são! Gostava eu de perceber, Presidente, como é que se sente um rico explorador do povo no meio de tanta pobreza.
Aqui a pobreza não é eventual, mas contínua, persistente, corrosiva, daquelas que deprimem e oprimem, e no entanto, ainda arranjamos tempo para a prosa. Até sempre, do pobre Laurindos.
DN – 28.02.2020