EM dois dias, primeiro no distrito de Macomia, onde na sexta-feira (21) os atacantes atearam fogo sobre um número estimado de 70 casas de habitação, depois de terem constatado a ausência da população, fugida por temer os chamados insurgentes.
Já anteontem, desta feita numa vila do distrito de Meluco, os atacantes provocaram a morte de um indivíduo e levaram consigo o estimado de 50 pessoas.
Em termos práticos, a situação nos distritos centro/ /norte de Cabo Delgado tem sido de ataques quase diários contra alvos populacionais e na falta destes, destruídas infraestruturas sócio-económicas.
Tal terá sido o caso da Ponte Montepuez, que na versão oficial desabou por causa da chuva, mas na visão da opinião pública local, o derrube da principal ponte de ligação aos distritos de Montepuez e demais, se deveu à sabotagem, numa acção de guerrilha, tipo Renamo a antiga. Não passa muito tempo que Pemba, a capital da província de Cabo Delgado, acolheu a reunião do Conselho de Ministros alargado aos poderes locais e comandantes das FDS, no final, comício popular, onde Filipe Nyusi falou da capacidade de os autores dos ataques se fazerem confundir com as populações.
Nyusi revelou, na ocasião, exemplo de indivíduos interventivos em comícios, posteriormente apanhados com a ‘mão na botija’, em zonas operativas. Se calhar por isso é que no comício de Pemba eram visíveis dispositivos de segurança, a ver se era possível captar imagens de supostos infiltrados. Nos últimos tempos, Filipe Nyusi tem intensificado a necessidade de uma maior vigilância contra tais infiltrados, que uma vez sob custódia, eventualmente indiquem o caminho para o término dos ataques na província.
São esforços redobrados que incluem partilha de riqueza, isto dito em pleno comício de Pemba, numa declaração que pode ser interpretada de desespero, face à crescente onda de ataques contra a estratégia defensiva das forças governamentais.
Recentemente, desta feita a partir da província do Niassa, o presidente Nyusi, até para não variar, nesse particular, voltou a falar da situação em Cabo Delgado. Aqui, destaque para recrutamentos, sem ser suficientemente esclacedor, depois de há semanas, em Maputo, Matola, Manhiça e Marracuene, o assunto ter agitado os locais, forçando as autoridades a se esclarecer, mal, diga-se.
Coincidência ou não, testemunhado o desembarque de “miúdos” de um navio no distrito de Macomia, sem que o destino do enorme grupo fosse conhecido. As mesmas fontes dizem que na incursão de sábado, os atacantes terão raptado o estimado de 50 pessoas, numa vila de Meluco, onde ocorreu uma vítima mortal.
O ministro francês para a Europa e Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, depois de conferenciar com Filipe Nyusi, prometeu ajuda na questão-paz, sem ser necessariamente explícito. A nova presidente do Parlamento, Esperança Bias, exortou, na semana transacta, o executivo a pôr termo à saga assassina decorrente em Cabo Delgado.
EXPRESSO – 24.02.2020