No norte de Moçambique, garimpeiros ilegais de rubis denunciam envolvimento das autoridades em esquemas e revelam os intervenientes e a sua localização. Polícia nega e afirma que já desmantelou circuito em Cabo Delgado.
Na província nortenha de Cabo Delgado, o garimpo ilegal de rubis vai alastrando os seus tentáculos dentro de uma área de exploração legal. Tem licença para explorar uma das maiores minas de rubis do mundo, a Montepuez Ruby Mining (MRM), empresa que dá sinais de não estar a conseguir controlar o crime.
Todo o circuito à volta dos rubis ilegais cresce impunemente. Sem nenhum receio, um garimpeiro ilegal, cujo nome a DW prefere não revelar, revela como funciona parte desse circuito. "Tiramos as pedras, escondemos e vamos vender em Montepuez, na cidade. Quando saímos do quintal da MRM, a polícia já não incomoda. Vendemos [as pedras] a uns estrangeiros que estão no distrito de Montepuez, que por sua vez tiram as pedras do país para comercializar fora", conta.
Outro garimpeiro ilegal revela as nacionalidades dos intermediários: "Os que compram os rubis do garimpo ilegal são tailandeses e somalis. A polícia conhece-os, porque eles não vivem escondidos. Em Montepuez ocuparam um bairro inteiro, outros casam, outros têm família, filhos."
Polícia diz ter desmantelado circuito
Mas a Polícia de República de Moçambique (PRM), através do seu porta-voz na província, Augusto Guta, diz que desconhece o facto. "Em 2017, fizemos uma operação, que não só visava retirar os garimpeiros ilegais da área concessionada à Ruby Mining, mas também visava quebrar todo o circuito de exploração, venda e retirada desse minério de Moçambique para qualquer parte do mundo. Fizemos a operação e achamos que correu com sucesso. Agora, se estas pessoas existem neste momento não posso confirmar. O que sei é que em 2017 isso teria sido desmantelado", assegura.
A noção de que o garimpo ilegal é um crime não é clara para alguns garimpeiros. Há até alguns que gostariam de poder comercializar as pedras preciosas ao próprio dono. Mas há outros que estão conscientes da via criminosa pela qual optaram, inclusive das consequências que isso acarreta. "Não vendem à MRM porque a empresa não aceita, se fores apanhado com as pedras entras na cadeia", conta um garimpeiro.
Obet Matine, inspetor-geral do Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME), esclarece que "a empresa não pode meter no circuito ilegal produção ilegal. Estaria praticamente a alimentar o tráfico até."
Garimpeiros ilegais: o elo mais fraco
Um esclarecimento que deveria ser repetido aos garimpeiros ilegais, que são apenas o elo mais fraco de um esquema que dá sinais de ser muito corrupto. O brilho dos rubis atrai também os olhos de gente poderosa, denuncia o garimpeiro: "Aquele é um negócio que a polícia conhece. Quase toda a gente quer fazer garimpo: comandante da polícia, chefes do posto, administradores."
Contudo, o suposto envolvimento corrupto da polícia num esquema ilegal que há muito saiu da sombra é negado pela corporação. "Eu não tenho conhecimento que haja envolvimento da polícia no sistema de exploração ilegal de recursos minerais, sobretudo de rubis nas minas de Namanhumbir. Até porque nós temos uma força específica de proteção de recursos naturais e meio ambiente, justamente para garantir que situações de exploração ilegal naquela área concecionada à Ruby Mining não tenham espaço", afirma Augusto Guta.
DW – 27.02.2020