Por Major Manuel Bernardo Gondola
O Pan-africanismo é de importância vital para conhecer os movimentos negros e conhecer suas teorias. Basicamente é um movimento que existe desde 19[00] ele tem uma estrutura que é montada tanto dentro do continente africano como fora do continente africano.
Então, pensar o Pan-africanismo é pensar o conjunto das populações negras no mundo é pensar o Pan-africanismo bem na linha do Diop, que pensa a unidade africana dentro duma diversidade e Moçambique faz parte dessa diversidade africana. Pensar o Pan-africanismo é pensar uma doutrina política ideológica bastante importante, para nós entendermos um pouco mais sobre a [história e geografia] do continente africano.
As origens dessa doutrina Pan-africanista estão essencialmente em [intelectuais negros] da África e também afro-americanos da América do norte e do Caribe. Fundamentalmente esta corrente teve como precursores; J. Price-Mars e R. Maran e, mais tarde, encontrou em Léopold Senghor [Senegal], em Aimé Césaire [Martinica] autor de Cahier d’un retour au pays natal [Caderno de Retorno ao País Natal] que tanto contribuiu para chamar a atenção sobre a diáspora negro-africana e que lhe cunhou o termo [Negritude] e no filósofo Jean-Paul Sartre [França] os seus defensores maiores.
E esses pensadores negros, começam a elaborar essa doutrina como uma reacção ao racismo. Racismo que dividiu a humanidade em raças. Ou seja, estabeleceu ideias de superioridade e inferioridade que no caso recaiu com muita força sobre os africanos com a ideia de inferioridade.
Sobretudo, as principais ideias do Pan-africanismo são baseadas na ilegitimidade das fronteiras africanas; ou seja, eles concluem que as fronteiras africanas não são [legítimas] porque não foram estabelecidas por africanos e sim pelos colonizadores europeus.
O Pan-africanismo também denuncia a [fragmentação] geopolítica do continente africano no sentido de que, vários blocos do continente africano foram divididos em parte, para os inglese, em parte para os franceses, parte para os portugueses produzindo assim essa fragmentação geopolítica, também chamada de [balcanização] de África.
O pan-africanismo propõe a união dos povos africanos e de certa forma chega a construir uma ideia [mítica] de que, o africano é um só povo com uma unidade quando na verdade existem grande diversidade étnica, religiosa e cultural dentro do continente africano.
O Pan-africanismo estimula a [descolonização] da África. Ou melhor, passa ser movimento político, que luta pelas independências e neste ano de 20[20] é muito importante pensar nas independências africanas porque nós temos [60] anos do ano de 19[60] chamado o «ano de África» quando aconteceram pelo menos [19] independências do continente então é uma data marcante para o continente africano.
O Pan-africanismo, defendia a criação de algo como os Estados Unidos da África era um modelo que se inspirava na ideia de [grandes Estados] como; os Estados Unidos e como União das Repúblicas Socialistas Soviética naquele momento. Então, pensava-se num grande [Estado africano] unindo povos africanos com a ideia de um [destino comum], a ideia de começar a caminhar com os próprios pés e não mais seguir os passos dos colonizadores europeus.
Por outro lado, ao mesmo tempo, que durante a fase da luta pela independência a ideologia africana dominante resumir-se-ia a algumas ideias-força que colheriam unanimidade como; independência e unidade africana porque instrumento da unidade nacional e legitimação do anti tribalismo, o neutralismo positivo e o socialismo. Contudo, o único objectivo atingido foi a independência que na maioria dos casos permaneceu nominal e ilusório.
Consagrados pela vitória contra o colonizador os líderes independentistas disporiam de uma forte legitimidade [carismática] para a reapropriação da herança colonial e a descolonização do Estado. Bourguiba na Tunísia, N’Krumah no Gana, Sekou Touré na Guiné e Lumumba no Congo procurariam sem êxito assinalável afirmar a identidade nacional em torno de princípios de direcção central. Socorrendo-se de um discurso antieuropeu e anti-imperialista mas, que assentava em [ideologias exógenas] e de empréstimo como; socialismo, laicidade, industrialização industrializante à soviética, economia mista e…,etc. Apesar de algumas tentativas sem futuro como as observadas entre a Guiné, o Gana, o Senegal e o Mali também o Pan-africanismo fracassou, provocando a pulverização de unidades nacionais como foi o caso da secessão do Catanga [Congo ex-Belga,] do Biafra [Nigéria] e a revolta do Sudão meridional, conduzindo ao recrudescimento do tribalismo. Igualmente o neutralismo falhou, ficando-se por um disperso não-alinhamento. Restava o socialismo africano também ele manchado de contradições e equívocos.
A influência do socialismo africano atinge seu [auge] nos anos 19[50]-19[60], quando se torna uma [arma teórica ]das forças democráticas revolucionárias que formulam programas radicais de transformações socioeconómicos de carácter não capitalista.
Quatro tendências se afirmariam no cenário pós-independências africanas:
Um socialismo de inspiração [marxista] instaurado por alguns regimes radicais como os da Guiné, do Mali, um socialismo de inspiração [espiritualista], produto do sincretismo com a tradição comunitária africana, adoptado pela maioria dos países africanos na esfera e tutela económica do Ocidente; um socialismo de fusão, amálgama dos valores positivos do socialismo africano espiritualista com o socialismo de inspiração [marxista], observável em países de regime radical como o Gana de Nkrumah ou a Tanzânia de Nyerere; um sincretismo ideológico entre marxismo e islão, baptizado de nacionalitarismo [Egipto, Sudão, Líbia]. Todos eles buscaram a construção sem sucesso de um nacionalismo de parafuso, ou seja, assente num crescimento desenvolvimento introvertido e autocentrado, com prossecuções a prazo.
Enfim, o erro maior e o [falhanço] do socialismo africano residiram no facto de, para um regresso à pureza original proclamada pelo nacionalismo africano, a maioria dos Estados ter acabado por invocar ideologias-alibis [pseudo-socialistas] porque sem definição precisa, pois, recorriam, em suma, a messianismos ideológicos, isto é, a representações literárias da sociedade desejável que eram contudo, estranhos à realidade africana e à autenticidade africana que reclamavam perseguir.
Manuel Bernardo Gondola Maputo, de 23 Fevereiro 20[20]