A Amnistia Internacional considerou hoje que a violência em Mocímboa da Praia reflete o "falhanço trágico" do Governo em controlar a situação nos últimos três anos, em que grupos armados têm atacado esta região do país.
"Esta escalada violenta em Mocímboa da Praia é o culminar de um falhanço trágico do Governo moçambicano em proteger o povo nesta área volátil", disse o vice-presidente da Amnistia Internacional (AI) para a África Austral, Muleya Mwananyanda.
De acordo com uma nota colocada no site da AI, "há quase três anos que grupos armados têm atacado os aldeões perto de Cabo Delgado, causando enorme sofrimento humano sem serem responsabilizados".
Estes ataques, lê-se ainda na nota, são agravados "pelo facto de o Governo proibir jornalistas, investigadores e observadores estrangeiros de aceder a essa região", e por isso a AI conclui que "as autoridades têm de agir imediata e eficazmente para proteger toda a gente na região, incluindo aumentar as medidas de segurança legais, e lançar investigações para levar os suspeitos à Justiça".
A Polícia moçambicana disse na segunda-feira que um grupo armado atacou um quartel das forças de defesa e segurança da vila de Mocímboa da Praia, Norte do país, e içou a sua bandeira, confirmando relatos da população já feitos à Lusa.
"Os malfeitores atacaram a sede de Mocímboa da Praia, incluindo um quartel das forças de defesa e segurança, e içaram a sua bandeira", disse o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), numa conferência de imprensa em Maputo.
Segundo Orlando Modumane, os ataques começaram por volta das 04:00 locais (menos duas horas de Lisboa) e os grupos criaram barricadas nas principais entradas da vila.
A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados, que organizações internacionais classificaram como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio já fez, pelo menos, 350 mortos, além de 156.400 afetados, devido à perda de bens ou obrigados a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.
Estes ataques têm acontecido sobretudo no meio rural, mas Mocímboa da Praia é um dos principais centros urbanos da região, sede de distrito, servido pela única estrada asfaltada que cruza a província e com um aeródromo apto a receber voos internacionais.
Trata-se da vila onde em outubro de 2017 começou a ameaça armada que tem atormentado Cabo Delgado.
Mocímboa da Praia fica a 90 quilómetros a sul de Palma, distrito onde estão a ser construídos megaprojetos internacionais de exploração de gás natural.
LUSA – 24.03.2020