Residentes de Mocímboa da Praia, norte de Moçambique, descreveram um cenário de "terror e medo" na vila, onde um grupo desconhecido atacou esta madrugada um quartel das forças de defesa e segurança e içou a sua bandeira.
“Estamos desde a madrugada escondidos em nossas casas e a situação não está nada calma. Neste momento que estamos a falar eles estão disparar”, disse à Lusa, por telefone, um comerciante residente no bairro de Nanduadué, local da mesquita onde que os seguidores da insurgência contra o Estado se reuniam e terão planeado o primeiro ataque da onda de violência armada, em outubro de 2017.
Os ataques começaram por volta das 04:00 locais (menos duas horas de Lisboa) e os grupos criaram barricadas nas principais entradas da vila, segundo informação do porta-voz do comando-geral da polícia moçambicana, Orlando Modumana.
Os relatos ouvidos pela Lusa indicaram que a população está fechada dentro das suas casas e que se ouvem disparos de armas de fogo e gritos de confrontação em vários locais da vila, a par da circulação de, pelo menos, um veículo blindado.
“A minha família não tem o que comer porque não posso sair. Eu tenho crianças aqui de 05 e 02 anos , não temos o que comer. Eles estão a passear aqui nos bairros. Ficamos alarmados quando ouvimos o comandante-geral [Bernardino Rafael] a dizer que estão a perseguir os bandidos, é tudo mentira. A situação está mal. Estamos a viver com medo”, acrescentou o comerciante.
Outra fonte residente na vila de Mocímboa da Praia descreve uma “situação de terror” e de ataque a infraestruturas.
“Os insurgentes estão espalhados, principalmente nos bairro periféricos. Há confrontos com frequência entre os grupos e as forças de defesa. Há casas queimadas e infraestruturas vandalizadas. Estamos a viver o terror e o medo”, afirmou à Lusa aquela testemunha, que também permanece escondida na sua residência.
A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados, que organizações internacionais classificaram como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio já fez, pelo menos, 350 mortos, além de 156.400 afetados, devido à perda de bens ou obrigados a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.
Estes ataques têm acontecido sobretudo no meio rural, mas Mocímboa da Praia é um dos principais centros urbanos da região, sede de distrito, servido pela única estrada asfaltada que cruza a província e com um aeródromo apto a receber voos internacionais.
Trata-se da vila onde em outubro de 2017 começou a ameaça armada que tem atormentado Cabo Delgado.
Mocímboa da Praia fica a 90 quilómetros a sul de Palma, distrito onde estão a ser construídos megaprojetos internacionais de exploração de gás natural.
LUSA – 23.03.2020
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