A organização não-governamental Centro para Democracia e Desenvolvimento disse hoje que a Freedom House, que colocou Moçambique como um país "parcialmente livre", ignorou várias atrocidades, considerando que se realizaram as "piores eleições da história" em 2019.
"Esta avaliação é, no mínimo, generosa para Moçambique, país que em 2019 teve as piores eleições da sua história de democracia multipartidária", lê-se numa nota do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) distribuída hoje à imprensa.
No relatório da organização Freedom House, divulgado na quarta-feira, Moçambique está na lista dos países onde a democracia mais recuou no ano passado e perdeu seis pontos em relação ao relatório anterior, mas é classificado como "parcialmente livre", numa pontuação global de 45 em 100 pontos possíveis, conquistando 14 pontos em direitos políticos e 31 nas liberdades civis.
Para o CDD, as dúvidas sobre a qualidade do recenseamento para as eleições gerais de 15 de outubro, a exclusão de candidatos, as irregularidades no dia do escrutínio, a detenção de delegados políticos de um partido extraparlamentar por alegada falsificação de credenciais e o homicídio de um ativista e observador eleitoral em Gaza são provas de que Moçambique recuou consideravelmente no que diz respeito à democracia.
"Ora, um país que não conseguiu fazer das eleições um momento de consolidação do Estado de Direito democrático, mas optou por investir no fechamento de espaços de participação política e cívica, não deve ser considerado como "parcialmente livre", acrescenta a organização.
Por outro lado, acrescenta a ONG, o "secretismo" por parte de Governo sobre os ataques de grupos armados que já mataram pelo menos 350 pessoas em Cabo Delgado (norte do país) estão a ferir um direito fundamental dos moçambicanos: o direito a informação.
"A região só não está em estado de emergência declarada porque o Governo continua a abordar o problema com secretismo para esconder a falta de estratégia", acrescenta o CDD, reiterando que Moçambique "devia estar na lista dos países em 'spotlight'", ou seja, Estados que merecem especial atenção e controlo no que toca à democracia em 2020".
No relatório da Freedom House, além de Moçambique, Benim e Tanzânia estão entre os 12 Estados que maiores quebras sofreram em 2019, grupo que inclui também a Bolívia, Burkina Faso, Chile e Índia, Guiné-Conacri, Haiti, Mali, Nigéria e Venezuela.
Numa avaliação a 10 anos, Moçambique regista uma quebra de 14 pontos na classificação global e integra o grupo dos 29 países que mais pioraram as suas prestações ao longo da década.
LUSA – 05.03.2020