Organizações da sociedade civil no distrito de Chókwè, sul do país, acusam a Frelimo, partido no poder, de "instrumentalizar crianças" para o envolvimento na violência eleitoral, distribuindo álcool aos menores para agirem embriagados.
A utilização de menores pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) durante as eleições foi mencionada num encontro promovido pelo Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental (ONG) moçambicana, refere-se numa nota divulgada hoje por esta entidade.
"Há partidos que usam álcool para instrumentalizar as crianças durante a campanha eleitoral. Dão bebida a menores de 18 anos para sabotarem a campanha dos partidos da oposição", afirmou Aniceto Chaia, membro de uma organização da sociedade civil e que foi observador nas eleições gerais de 15 de outubro, falando no encontro.
Maria Chaúque, ativista da sociedade civil, afirmou na ocasião que os membros de ONG são alvo de perseguição por parte das autoridades, porque o seu trabalho é visto como apoio à oposição.
"Quando vamos à secretaria do bairro solicitar declaração [de residência], eles recusam-se a passar o documento alegando que nós somos da oposição", declarou Chaúque.
No distrito de Chóckwè, província de Gaza, trabalhar para a sociedade civil é encarado pelas autoridades como sinónimo de ser da oposição, acrescentou.
"Como se ser da oposição fosse crime em Moçambique", prosseguiu Maria Chaúque.
Os participantes no encontro promovido pelo CDD apontaram o homicídio do observador eleitoral Anastácio Matavel, em 07 de outubro do ano passado, e a detenção de 18 membros da Nova Democracia, partido da oposição, como provas de intolerância política na província de Gaza.
O escândalo da presença no registo eleitoral na província de Gaza de mais de 300 mil eleitores a mais que as projeções do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), também foi apontado no encontro como demonstração de viciação dos processos eleitorais a favor da Frelimo.
Comentando as acusações dirigidas às autoridades em Chókwè, o comandante distrital da polícia, Aníbal Jamal, afirmou que a corporação desempenhou o seu papel dentro da lei.
"As 18 pessoas foram detidas no âmbito de uma denúncia que reportava ilícitos eleitorais que estavam a acontecer nas mesas das assembleias de voto", afirmou Aníbal Jamal.
Sobre o homicídio do observador eleitoral, Jamal avançou que está em curso um processo judicial para a responsabilização dos autores do crime.
A Lusa tentou ouvir a Frelimo sobre as acusações dirigidas ao partido durante o encontro, mas não foi possível até ao momento.
A Frelimo venceu as eleições gerais de 15 de outubro com uma maioria qualificada e o seu candidato presidencial ganhou a corrida para um segundo e último mandato na chefia do Estado.
LUSA – 09.03.2020