Por Edwin Hounnou
Os vendedores de rua, ambulantes ou informais, como se queira designá-los, que ocupam os passeios das cidades e vilas do nosso país são um produto directo de uma governação desastrosa a que todos nós estamos submetidos desde a independência.
Eles reflectem o grave nível de destruição do tecido social em que nos encontramos.
As desastrosas políticas económicas seguidas pelos diversos governos da Frelimo não só não deram continuidade ao ritmo de produção que o regime colonial havia deixado como até levaram o país ao descalabro económico ao ponto de termos que recorrer à ajuda internacional para tudo o que precisamos para a nossa sobrevivência como povo e nação.
Quando o país chegou à independência as fábricas todas funcionavam, produziam bens e empregavam milhares de moçambicanos que não precisavam de ocupar os passeios e pracetas para vender. As grandes machambas produziam o milho, arroz, batata e fruta. A indústria metalomecânica produzia tudo quanto o mercado nacional, e não só, precisava.
Ninguém atravessava a fronteira à procura de chouriço ou de carne.
A laranja, a banana, toranja, batata, couve, repolho, tomate, os feijões, a cenoura eram produzidos nas nossas machambas e pelas nossas mãos. Não havia o hábito de ir ao estrangeiro buscar tudo quanto consumimos porque o país oferecia alternativas.
O povo tinha o orgulho de pertencer a uma nação respeitável, mas hoje virámos um simples supermercado de países vizinhos para onde, em fila indiana, vamos comprar o alho, a carne, botões, a linha de coser, agulha, pilhas, fósforos e outras quinquilharias.
Sentimos vergonha que ninguém lutou para estar em situação pior que no tempo colonial. A independência por que o povo se bateu está a beneficiar, apenas, as elites do partido no poder, como ficou demonstrado na jogada das dívidas inconstitucionais.
Milhares desses braços que, hoje, ostentam camisetas e sapatilhas de segunda à procura de cliente, produziam alimentos, equipamentos e faziam a economia girar, a competir com as melhores economias da África Austral, porém, tudo acabou.
Voltámos à estaca zero. Isso se deve à ganância da Frelimo que nos jogaram no matope de onde não sairemos tão cedo. As fábricas foram fechando as portas. As machambas deixaram de produzir e, no lugar de milho, mapira e batata, cresceu capim começaram a criar ratazanas. Os trabalhadores caíram no desespero.
A mão-de-obra que, outrora, produzia riqueza, começaram a fluir para as ruas, avenidas, praças e pracetas à procura de uma maneira de sobrevivência. Foi a incompetência do regime da Frelimo que criou a pobreza, os dumbanengues / txunga-moyos. Ao invés de resolverem o problema de base pela raiz, procuram, com cães e bastões, combater o seu fenómeno. A solução passa pelo relançamento da economia. Quando a economia crescer, teremos as cidades bonitas, sem aglomerados de gente nas ruas a vender.
Lançar cães contra vendedores de rua não pode ser uma solução.
Disparar armas de fogo para assustá-los só pode ser uma postura de quem deixou crescer um problema tão grave como este e, agora, dando murros aos ventos.
Foi o Governo que atirou os desempregados para ocuparem as ruas, passeios, praças e pracetas e, em momentos eleitorais, vão lá pedir-lhes o voto para continuarem a cavalgar o povo. Encorajam-nos cobrando-lhes receita diária de ocupação de espaço.
Querem ou não que os vendedores de rua continuem inundando as cidades e desfigurando a estética dos centros urbanos?
O Governo é incoerente que diz sim e não ao mesmo tempo.
Encoraja e desencoraja, em simultâneo.
O grande centro de“ndumba-nenga / txunga-moyos” reside no Governo que não tem soluções eficazes para o povo e o país. Não é por acaso que temos as ruas das cidades esburacadas e o lixo a transbordar por todos os lados.
Nem a própria capital do país escapa à imundice e as ruas esburacadas.
Ninguém tem vergonha de ter jogado o país para informal, o que revela a falta de irracionalidade dos que nos governam por olharem apenas para os seus interesses estomacais. Temos o futuro do país adiado “sine die”. A felicidade do povo penhorada por tempo incerto pela corja frelimista.
O Conselho Municipal da Cidade de Nampula, dos tempos de Mahamudo Amurane, teve uma experiência que vale a pena aqui ser relembrada. Mandou, antes de qualquer medida, construir, nos arredores da Cidade, mercados com todas as condições de saneamento, água e iluminação pública e, só depois, convidou os vendedores de rua a ocuparem as bancas. Aqueles que resistissem ao convite, sujeitavam-se a sevícias policiais e, alguns, ficam sem as suas mercadorias. No auge de Amurane, os passeios, praças e pracetas estavam desocupadas e as pessoas andavam à vontade.
Os que vieram depois de Amurane descativaram a tal medida. Voltaram não só a permitir que os vendedores informais a ocupar os passeios como até difundiam mensagens populistas em desabono da proibição de vender em lugares inapropriados de onde haviam sido retirados sem recurso à violência. Parecia que Amurane estava contra o povo, mas não era verdade. Ele queria a ordem na Cidade e a postura camarária respeitada.
O então deixou a urbe limpa, bonita e com jardins a brilharem.
Este é um exemplo que demonstra como as autoridades descaracterizam as cidades e vilas. Quando a situação se torna incontrolável, como andam as nossas cidades, eles recorrem a medidas draconianas para salvar a honra que não souberam manter nem defender.
Não apoiamos, de forma alguma, a presença de vendedores ambulantes nos passeios, praças e pracetas. Queremos ver as nossas cidades limpas, bonitas e com jardins a florir, todavia a incúria e a inércia dos que nos governam não permitem que os nossos centros urbanos sejam lugares onde a gente se possa sentir alegre. Os nossos governantes são indivíduos bastante viajados e eles costumam ver, lá por onde têm andado e passam as suas férias, como as cidades estão organizadas, apesar de “desconseguirem” copiar as coisas boas que acontecem pelo mundo fora. Insistem que o povo continue no inferno, enquanto estão numa boa comendo o que roubam das mãos do povo.
Esperamos que a situação por que passamos venha a melhorar um dia, e sabemos que temos um longo caminho ainda a percorrer.
Os nossos gatunos não pagarão o poder por se fartaram de comer e juram que não sairão por uma simples eleição. Nem o gás nem o petróleo vão salvar o povo moçambicano, pois, antes mesmo de o gás começar a jorrar, foram buscar dois mil milhões de dólares para se distribuírem entre eles.
Para quê nos servem os 36 milhões de terra arável que possuímos?– Nada.
Para quê nos serve o complexo ferro portuário que temos? – Nada.
Para quê nos serve a Hidroeléctrica de Cahora Bassa?– Nada.
Para quê nos servem as minas de carvão de Moatize e Benta? – Nada.
Para quê nos serve o gás de Pande-Temane? – Nada.
Para quê nos servirão o gás e petróleo do Rovuma? – Para nada.
Enquanto a Frelimo continuar no poder, o futuro do país está bloqueado. Não teremos desenvolvimento nem paz.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 25.03.2020