Grupos armados em Cabo Delgado, norte de Moçambique, assaltaram um armazém associado ao Programa Mundial para Alimentação (PAM) no distrito de Quissanga, no primeiro ataque documentado contra uma agência das Nações Unidas naquela província, anunciou hoje fonte oficial.
"O incidente ocorreu no dia 07 de abril, quando um grupo armado invadiu um armazém operado por um parceiro local do PAM e roubou alimentos", disse à Lusa o diretor interino do PAM em Moçambique, James Lattimer, avançando que não houve vítimas mortais e nem feridos durante a invasão.
No total, segundo a agência das Nações Unidas, 116.6 toneladas de cereais, leguminosas e óleo vegetal terão sido saqueadas no posto administrativo de Mahate e, segundo fontes locais contactadas hoje pela Lusa, os produtos terão sido distribuídos pela população de Quissanga.
"Este é o primeiro caso documentado em que grupos armados invadiram deliberadamente um armazém humanitário", disse James Lattimer .
A assistência humanitária do PAM em Cabo Delgado visa 95.000 pessoas carenciadas nos distritos de Pemba, Metuge, Nangade, Macomia, Palma, Mueda e Montepuez, mas devido à situação de insegurança em março, a agência retirou ou seus funcionários dos pontos afetados pela violência, estando apenas um grupo de "funcionários essenciais" a coordenar o apoio a partir de Pemba, capital provincial.
"Devido às restrições de acesso e insegurança, no período de 1 a 25 de abril, a assistência humanitária alcançou apenas 39.500 beneficiários com cestas", afirmou James Lattimer.
Cabo Delgado, região onde avançam megaprojetos de extração de gás natural, vê-se a braços com ataques de grupos armados classificados como uma ameaça terrorista e que já provocaram a morte de, pelo menos, 500 pessoas nos últimos dois anos e meio.
As autoridades moçambicanas contabilizam 162 mil afetados pela violência armada.
No final de março, as vilas de Mocímboa da Praia e Quissanga foram invadidas por um grupo, que destruiu várias infraestruturas e içou a sua bandeira num quartel das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.
Na ocasião, num vídeo distribuído na Internet, um alegado militante 'jihadista' justificou os ataques de grupos armados no norte de Moçambique com o objetivo de impor uma lei islâmica na região.
Foi a primeira mensagem divulgada por autores dos ataques que ocorrem há dois anos e meio na província de Cabo Delgado, gravada numa das povoações que invadiram.
LUSA – 30.04.2020