HÁ um terrorista a menos face às contas terça-feira publicamente apresentadas pelo ministro do Interior, Amade Miquidade, dando conta de 129 vítimas mortais entre os insugentes de Cabo Delgado.
Com efeito, se no dia sete de abril o comando conjunto das Forças de Defesa e Segurança (FDS) ‘abateu’ 39 terroristas, quando estes tentavam atacar Muidumbe; na manhã do dia 10 de abril, 59 foram postos fora de combate, num ataque na Ilha das Quirimbas; e na noite entre os dias 11 e 12 ‘abatidos’ outros 30 quando tentavam atacar Ibo, fazendo-se passar por Pescadores, ao todo, perfazem 128 extremistas mortos, não 129, como erradamente se deu a conhecer. Miquidade conta que o massacre de 8 de abril contra 52 jovens que teriam declinado integrar os extremistas, aconteceu em reacção às baixas sofridas. Com efeito, um dia antes, 7 de abril, em Muidumbe, as FDS realizaram as referenciadas 39 baixas entre os insurgentes. O governo, entretanto, acaba de anunciar inquérito sobre o sucedido na aldeia de Chitaxi, em Muidumbe, para que os moçambicanos e a comunidade internacional conheçam ao pormenor os contornos da chacina.
A Comissão Política da Frelimo, ontem, manifestou solidariedade para com as famílias dos 52 jovens. Em março, as autoridades moçambicanas teriam contratado mercenários de uma firma sul-africana de segurança privada, a DAG, que com os meios aéreos, a partir de abril, até maio, têm a responsabilidade de efectuar raides contra bases inimigas, em Cabo Delgado. Coincidência ou não, o avanço das FDS no terreno acontece a partir de abril, precisamente por alturas da presença mercenária, com uma série de ataques contra bases e posições dos extremistas islâmicos.
Em finais de março, os extremistas atacaram e invadiram sucessivamente as vilas sede de Mocímboa da Praia e de Quissanga, ainda Muidumbe, içando a sua bandeira, na altura anunciando, pela primeira vez, a intenção de islamização daquela região de Moçambique. A ousadia dos extremistas terá levado as autoridades moçambicanas a adoptar estratégia mais arrojada, atravez da contratação da sul-africana DAG, para isso dando costas ao executivo de Cyril Ramaphosa, que tinha em mãos pedido moçambicano de auxílio no enfrentamento dos terroristas.
Face à lentidão da resposta sul-africana e diante da perigosa ascensão dos extremistas, a opção arriscada foi a de avançar para uma contratação da DAG, mesmo que à revelia de Ramaphosa. A secreta sul-africana acabaria por dar protecção aos mercenários no terreno, em Cabo Delgado, enquanto o gabinete de Ramaphosa dava início à análise do pedido moçambicano, temendo a expansão dos extremistas para a África do Sul, a partir de Moçambique.
Xeque-mate
Em entrelinhas, o ministro do Interior, Amade Miquidade, aventa a hipótese de nos próximos dias serem levadas a cabo ataques cirúrgicos contra posições estratégicas dos terroristas, pois já se conhecem as bases e os roteiros dos mesmos.
Antes desta leva de contra-ataques, com recurso a drones, foi se percebendo a movimentação dos terroristas nas florestas de Cabo Delgado, em muitos casos, estes celebrando o sucesso no terreno, após ataques exporádicos contra as FDS e aldeias.
Fontes do ET em Cabo Delgado dizem que por meio de drones, era possível testemunhar iniciativas festivas – comeretes e beberetes – com dezenas de cabritos sacrificados a propósito.
Na ocupação a vila de Muidumbe, um suposto terrorista revelou as intenções dos atacantes, anotando serem nativos de Cabo Delgado que reclamam igualdade de tratamento na justiça, ainda que nas florestas às centenas. Era como que em resposta à preocupação alguma vez manifestada pelo presidente Filipe Nyusi, no sentido de o grupo revelar as suas reais intenções, a dado momento, chegando a abrir portas a eventual negociação visando suposta partilha da riqueza.
Mas os terroristas garantem que no role dos seus objectivos não consta nada que esteja relacionado com os recursos que a província dispõe, sim, igualdade de tratamento perante a justiça.
Diante deste quadro, Nyusi conclui estar-se diante de ataque externo, atravez do Estado Islâmico e, como tal, de tratamento à altura da invasão.
Não levou muito tempo para helicópteros sul-africanos reequipados com material bélico, estabelecerem-se no distrito de Mueda, Cabo Delgado, uma espécie de Estado-Maior das FDS e onde está eventualmente a funcionar o gabinete de interrogatórios.
É para este local onde provavelmente teria sido levado o jornalista Abu Mbarocu, da rádio comunitária de Palma. A polícia afirma não saber do paradeiro de Mbarocu. Agremiações da sociedade civil internacional exigem o esclarecimento ao PR, Filipe Nyusi, no caso do jornalista (vide artigo noutro espaço desta edição).
EXPRESSO – 30.04.2020