Analistas lamentam que o Conselho Nacional de Defesa e Segurança (CNDS), reunido esta quinta-feira, 23, não tenha tomado uma posição firme sobre os ataques armados na província moçambicana de Cabo Delgado, considerando que não basta o simples reconhecimento de que os mesmos são perpetrados pelo Estado Islâmico.
A realização do encontro do CNDS criou expectativa no seio da sociedade moçambicana, sobretudo porque o mesmo ocorria poucos dias depois de uma série de ataques a aldeias e vilas, e numa altura em que aumentam denúncias sobre violação de direitos humanos, incluindo detenções de jornalistas em Cabo Delgado por elementos das forças de defesa e segurança.
“Eu esperava que o Conselho Nacional de Defesa e Segurança tomasse uma decisão no sentido de solicitar apoio à comunidade internacional, face à violência armada em Cabo Delgado”, afirmou o professor Custódio Dias.
Contudo, para o sociólogo Francisco Matsinhe, neste encontro, houve um desenvolvimento muito positivo, “que foi o facto de, pela primeira vez, desde que começaram os ataques em Cabo Delgado, o Governo reconhecer, publicamente, que quem está por detrás desses ataques é o Estado Islâmico”.
Refira-se que o comunicado emitido no final da reunião afirma que o CNDS “analisou a situação dos ataques na província de Cabo Delgado e concluiu que o facto de a autoria dos mesmos ser reivindicada pelo Estado islâmico, uma organização terrorista, revela que estamos em presença de uma agressão externa perpetrada por terroristas”.
Vítimas indefesas
Mas o diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, diz que o Conselho Nacional de Defesa e Segurança não se reúne para discutir conceitos.
“Esse encontro tinha que tomar uma decisão, porque a situação que se vive em Cabo Delgado é calamitosa; esperava-se que saíssem decisões firmes e essas decisões não saíram”, lamentou o diretor do CDD.
Referiu que o encontro do CNDS ocorreu numa altura em que se multiplicam apelos da sociedade civil no sentido de o Estado moçambicano solicitar apoio à comunidade internacional, “pelo que se esperava que este órgão passasse em revista a situação em Cabo Delgado e dissesse o que se vai fazer a seguir.”
Entretanto, Francisco Matsinhe é da opinião de que o problema não é a falta de apoio internacional, “mas o facto de as forças de defesa e segurança não estarem motivadas, porque não se percebe a facilidade com que os ataques estão a ocorrer”.
Matsinhe interroga-se porque é que as vítimas dos ataques são pessoas indefesas, como aconteceu na vila de Mocímboa da Praia; onde estavam os dirigentes locais?”.
VOA – 24.04.2020