EUREIKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (12)
Bom dia, Presidente. Estamos em tempos difíceis e eu não deixo de me perguntar: qual é a razão de o Presidente da República preferir manter o silêncio sobre a situação de Cabo Delgado.
Acho que todo o moçambicano decente deve fazer essa pergunta. O senhor pode não responder ao Laurindos, mas por uma questão de respeito ao povo que lhe votou e pela Constituição da República que jurou defender, já devia, por iniciativa própria, ter feito uma comunicação à nação a explicar o que está a acontecer e o que o Presidente está a fazer para proteger a integridade do País.
O Presidente precisa do Laurindos para lhe explicar que onde o silêncio impera, grassam os rumores, as invenções, os exageros? Nessas circunstâncias, a fronteira entre a mentira e a verdade é tênue.
Por que o Governo evita falar de forma aberta sobre a situação de Cabo Delgado? Nunca lhe ocorreu, Presidente, que, muito provavelmente, há-de ter sido essa falta de diálogo com os locais que pavimentou o terreno para o surgimento dos “jihadistas”? hoje eles caminham firmes. Içam bandeiras. Até parece que as Forças de Defesa e Segurança é que são invasoras. Esse esquecimento, essa sensação de abandono, de silêncio do poder central sobre a situação de Cabo Delgado pode ter levado ao surgimento da insurgência.
Eu conheço Cabo Delgado, Presidente. E o que fui vendo lá é o caos. Jovens lutam por comida, por dignidade, por um pedaço de terra para o cultivo; todavia, do outro lado estão as vastas porções de terra fértil pertencentes às elites que vivem como nababos, alheios ao destino das populações.
Como é que esses jovens não podem ver no fundamentalismo islão a sua tábua de salvação? O vazio comunicacional não é de hoje. Desde os primeiros ataques, em 2017, o Presidente nunca falou directamente à população sobre o que está a passar.
Nós até aqui não sabemos o que o Executivo e as Forças de Defesa e Segurança estão a fazer para acabar com a insurgência em Cabo Delgado. Nós não sabemos onde é que o Presidente gasta as suas energias. Nós não sabemos qual é o significado da palavra paz para o Presidente, mas podemos concluir que não há-de ser o mesmo que consta nos fartos dicionários da língua portuguesa.
DN – 24.04.2020