A República Popular da China tem nas mãos o sucesso ou fracasso da proposta do G20 relativa à suspensão dos pagamentos de dívida dos países mais vulneráveis.
”A China é, de longe, o maior credor bilateral na África subsaariana, tornando o Clube de Paris muito menos relevante para a região do que foi durante a última crise da dívida; a China tem mais de 80% da dívida total bilateral, concentrada na África Austral e Oriental”, destaca um documento da consultora Eurasia a que a agência Lusa teve acesso.
De acordo com o documento, “os países com ligações políticas mais próximas – Angola, Zâmbia e Etiópia – são os mais endividados, representando mais de 90% da dívida bilateral e 30% da dívida externa total, representando 31 mil milhões de dólares”. Na leitura dos analistas da Capital Economics, o risco mais elevado de ‘default’ está centrado em Angola e na Zâmbia, onde, adiantam “os altos custos de servir a dívida, juntamente com a queda dos preços das matérias primas, vão provavelmente obrigar a algum tipo de reestruturação da dívida a curto prazo”.
Com Angola, o processo será mais fácil devido à relação política próxima entre os dois países e uma vez que a dívida externa é maioritariamente devida a empresas públicas chinesas, consideram os analistas. Ainda assim, segundo os analistas, devido ao papel proeminente que tem enquanto credor bilateral, a China vai tornar a coordenação das iniciativas de alívio de dívida difíceis, uma vez que prefere encetar negociações bilaterais com cada um dos países devedores.
O debate público em torno da dívida africana foi desencadeado pela crise da Covid-19 e centra-se na dificuldade/impossibilidade dos governos poderem honrar os compromissos e, ao mesmo tempo, investir na contenção da pandemia.
Refira-se que o grupo dos 20 países mais industrializados aceitou, em meados de abril, suspender até ao final do ano 20 mil milhões de dólares, cerca de 18,2 milhões de euros, em dívida bilateral aos países mais pobres, a maioria africanos, desafiando os credores privados a juntarem-se à iniciativa.
O Instituto Financeiro Internacional (IFI), que junta os credores a nível mundial, anunciou na semana passada a intenção de participar na iniciativa do G20 sem avançar por enquanto detalhes. Dados deste organismo estimam que a dívida soberana e os juros dos empréstimos contraídos pelos países em desenvolvimento e dos mais pobres a pagar este ano ronda 140 mil milhões de dólares, qualquer coisa como 127,8 mil milhões de euros.
A pandemia da C-19 totaliza ao dia 10 de maio, mais de 60 mil infetados e 2.223 mortos em 53 países.
EXPRESSO – 11.05.2020