Porta-voz da Frelimo recusa-se a admitir que isso foi decidido no último sábado, em Maputo
Fernando Veloso e Borges Nhamirre
O porta-voz do partido Frelimo, Edson Macuácua, não confirmou a decisão da Comissão Política de indigitar Aires Ali para candidato do partido Frelimo às eleições para Presidente da República, em 2014.
Abordado pelo Canal de Moçambique esta terça-feira, Macuácua começou por negar que tenha havido reunião da Comissão Política no sábado, embora seja certo que os membros deste órgão reuniram-se efectivamente no sábado antes de um almoço numa das residências particulares do chefe de Estado, Armando Guebuza, no bairro das Mahotas, nos arredores de Maputo.
“Primeiro: não houve encontro da comissão política. Não tendo havido encontro, nenhuma decisão foi tomada. Ademais, não é a Comissão Política que elege o candidato à Presidência da República, mas, sim, o Comité Central”, disse o secretário para a Mobilização e Propaganda da Frelimo, Edson Macuácua.
Entretanto, fontes seguras garantem que “no encontro de sábado foi decidido que Aires Ali” será proposto pela Comissão Política ao Comité Central para ser o candidato da Frelimo às eleições para se encontrar o futuro inquilino do Palácio da Ponta Vermelha, residência oficial do chefe de Estado de Moçambique.
A indicação de Aires Ali foi--nos ainda comentada por fontes das mais altas esferas da Frelimo como lógica tendo em conta que já é ele que tem aparecido a inaugurar tudo e mais alguma coisa ultimamente.
Aires Ali, o actual primeiro-ministro, é visto como um candidato da continuidade.
Mas o Comité Central tem a última palavra embora caiba formalmente ao Congresso legitimar a candidatura.
O X Congresso do partido Frelimo está já marcado para ter lugar em Setembro de 2012, em Pemba, capital de Cabo Delgado.
Entretanto, segundo as nossas fontes bem colocadas ao mais alto nível da Frelimo, há importantes sectores que não se conformam com a escolha de Aires Ali e poderão ainda tudo virem a tentar para alterar a decisão.
Ainda no último sábado, o veterano Alberto Chipande, que se intitula o autor do primeiro tiro que marcou o início da luta armada contra o colonialismo português – embora tal louro seja contestado por outros antigos combatentes – foi citado a dizer que os grandes assuntos da Frelimo devem ser discutidos abertamente por todos.
Chipande, em conversas sobre o candidato a sucessor de Guebuza pela Frelimo na Presidência da República, é frequentemente citado como interessado em não abdicar dessa possibilidade. Quando referido, em contestação às suas alegadas intenções, que ele está incapaz de assumir tal candidatura, várias fontes alegam que Chipande está doente. Mas também dizem que ele não quer abdicar de ser ele, pelo menos, a indicar o sucessor de Guebuza, havendo duas versões a correr: uma que indica que Chipande se não for o candidato à Presidência da República quer pelo menos ver-se consagrado como presidente do Partido na sua província natal, durante o X Congresso. Ou então que seja ele a indicar o candidato às eleições de 2014. Refere-se que as suas escolhas recaem em Raimundo Pachinuapa, outro veterano de origem Macinde, que entretanto também é dado como doente. Ou José Pacheco, um nome de Manica que se tornou “muito querido” em sectores da Frelimo, em Cabo Delgado, quando por lá passou como governador provincial.
Há ainda, no entanto, uma “grande dúvida que paira” nos bastidores da discussão que está a pôr os nervos à flor da pele em todos os que se encontram acantonados no partido Frelimo com aspirações a controlar a organização que tem estado no poder desde a independência nacional. E essa questão não será simples de resolver, aparentemente, pois trata-se de mais uma inovação como a que fez do secretário-geral da Frelimo o candidato às eleições em 2004 quando Joaquim Chissano foi literalmente empurrado e afastado quando se dizia que ele queria manter-se no cargo, pelo menos como presidente do Partido, facto que viria torneado ao servirem-lhe a frio apenas o título de Presidente Honorário.
Armando “Guebuza quer pelo menos conseguir continuar como presidente da Frelimo”. Guebuza, ao indicar Aires Ali como seu delfim, prepara-se para no entanto não largar a presidência do partido. Daí aspira controlar a bancada na Assembleia da República de forma a tentar que lhe reste a possibilidade de provocar um “impichment” do PR caso não lhe obedeça, caso seja o “filho do Niassa” a escolha dos eleitores entre outros candidatos que se perfilam para 2014, como seja – como tudo indica – Afonso Dhlakama, pela Renamo, e Daviz Simango, pelo MDM.
Entretanto, conhecido que é o ambiente de crispação na Frelimo, perante um velho adversário aparentemente esgotado e sem pernas para servir de factor aglutinador na casa dos velhos de Nachingweia, outras informações, de várias fontes, indicam que Guebuza poderá estar a preparar lenha para se queimar, dado que há correntes fortes na Frelimo que apoiam a candidatura de Luísa Diogo, a candidata da Frelimo em 2014, como também há outras que apoiam Eduardo Mulémbwè.
Diga-se, contudo, que tanto uma como outro, usam como trunfos o facto de não serem originários do Sul, um factor que Armando Guebuza não foi capaz de eliminar como preconceito na Frelimo ao apresentar-se em 2003 como natural de Nampula, pois sabe-se que cresceu e socializou-se como Ronga, de famílias do distrito mais ao Sul do País e que até em 1994 viria a criar com Salomão Moiane e outros uma associação evocativa dessa etnia do espectro de muitas outras que integram a nacionalidade moçambicana.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 21.12.2011
NOTA: Será a que pergunta de Aires Ali sobre quem é a figura NEW MAN ainda é rescaldo de uma situação mal resolvida dentro da Frelimo?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE