EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (14)
O seu Governo, Presidente, não é sério. Ou melhor: é incompetente.
O País sangra na praça pública e todos fingem que não vêem. Os risíveis paladinos da moral e de bons costumes que amiudamente têm desqualificado qualquer crítica ao Governo onde é que estão, em momentos como este em que o discurso palaciano é um convite desavergonhado à esquizofrenia?
Vamos aquecer as turbinas: afinal, porquê o Presidente não demite o comandante-geral da PRM? Ele já lhe deu provas mais do que suficientes de que é incompetente. Ultrapassa-lhe essa coisa de chefiar a Polícia. Quem são, afinal, os mandantes dos raptos? Nunca nos apresentaram nenhum.
E a forma como se registam os resgates deixa muito a desejar. Ou melhor: a Polícia até auto-ridiculariza-se ao chamar aquilo de resgate. Parece tudo ensaiado.
Isto estamos a falar de acontecimentos recentes. Fora isto, é do conhecimento de todos que Bernardino Rafael nunca brilhou dentro do campo. E colocam-no a jogar 90 minutos sem tocar sequer uma única vez na bola. Mas sempre é convocado. É efectivo.
Um jogador moleza até é capitão da equipa. Qual é, afinal, o grau de parentesco entre o Presidente e o chfe da Polícia?
Por outro lado, temos a vergonha de Cabo Delgado. É naquela província que o seu Governo, Presidente, até exibe truques de incompetência que nós não conheciamos. Por esses dias, sabe-se lá porque cargas de água, os dois ministros têm dado, de quando em vez, ares da sua graça. Estou a falar dos ministros do Interior e da Defesa Nacional. Dão conferências de imprensa em que falam dos feitos das Forças de Defesa e Segurança que nem mesmo eles acreditam.
O que se verifica no terreno é outra história. Por exemplo, no sábado último, próximo à aldeia Awasse, junto à estrada que liga esta aldeia e a sede do distrito de Mocímboa da Praia, os transportadores encontraram vários corpos abandonados que serviam de banquete aos cães vadios.
Noutros até se podia ver o fardamento das Forças de Defesa e Segurança. São baixas da parte do exército governamental, Presidente. E isto não tem nada que ver com as vitórias que os seus ministros aludem sem, contudo, apresentar provas.
E o Presidente sabe, e muito bem, que a zona que me estou a referir esteve debaixo do fogo no passado dia 11 de Maio. Os corpos ficaram ali para os cães se banquetearem porque após violentos ataques dos insurgentes contra Awasse e Miangalewa, ficou interrompida qualquer circulação rodoviária para Mocímboa da Praia.
E na retomada foi isto: as portas do inferno pareciam escancaradas. E os corpos até aqui ficaram por contabilizar. Se acha que lhe estou a mentir, pergunta o admnistrador de Mocímboa da Praia. Esteve no local e viu esse espectáculo macabro com os seus próprios olhos.
Esta guerra, Presidente, nunca vamos vencer com propaganda barata. É preciso mais do que isso. Em algumas partes de Cabo Delgado relata-se que quando os insurgentes chegam, encontram tudo vazio. As Forças de Defesa e Segurança fogem. Deixam para trás o armamento e viaturas.
É por isso que os “jihadistas” içam a sua bandeira no quartel do exército governamental. Não encontram resistência! Mas o discurso palaciano é outro. Não, não há incompetência.Tudo o mais que nos atormenta hoje são – de acordo com essa amalucada retórica – delírios. Alucinações manhosamente inoculadas no imaginário colectivo pela nefasta aliança dos que não gostam da Frelimo.
DN – 22.05.2020