Por Edwin Hounnou
O país há muito chegou ao fim da estrada. Chegou à exaustão. Não pode continuar a ser gerido como se fosse uma quinta de um grupo de amigos. Ninguém lutou pela independência para voltar a viver em condições piores que antes. Ninguém abraçou a luta para assistir a golpes económicos feitos com toda a impunidade. No tempo colonial não era permitido as pessoas viajarem em camiões como se fossem animais, mas hoje o povo passa em frente da Presidência da República em “my love" e nada acontece. O anormal virou normal num país sem vergonha.
O dinheiro que o país possui serve para proporcionar aos governantes e deputados uma vida de luxo, fabulosa e folgada.
No passado, a distribuição da riqueza e de oportunidades era feita, essencialmente, com base na cor da pele, depois da independência nacional, passou a ser em função da militância partidária. A meritocracia nunca existiu no horizonte do partido que proclamou a independência do nosso país. A competência, conhecimento e dedicação não contam para nada. O pertencer ao partido no poder é mesmo que ser um reles bajulador é tudo quanto seja necessário para se sentir proprietário do nosso destino comum. Não se lhes pode opor nem em ideias e debate meramente académico, logo irrompem vociferando como um cão de guarda a ladrar para um salteador.
Os órgãos públicos de comunicação social servem de amplificadores da desinformação. Não informam nem concorrem para a formação da cidadania. Falar bem da Frelimo e do seu governo é sua a razão de existência. Escamotear a verdade, esconder os factos e minimizar as mazelas do governo sempre estiveram na sua pauta do trabalho, por isso, caíram no descredito perante o povo. São os chamados analistas-residentes a quem se socorre para aprofundar a mentira fabricada nos reluzentes gabinetes dos governantes. Os defensores do regime dos corruptos andam tão desesperados como os seus donos que fazem derrapar o país.
Nenhum regime democrático se mantém com base em esquadrões da morte criados para eliminarem seus opositores políticos.
A Rádio Moçambique (RM) que já foi uma estação de referência pela sua equidistância política, abertura e rigor, porém, agora, virou um antro onde abundam todas as práticas não recomendáveis numa instituição pública, como o amiguinho, compadrio e o esbanjamento. A Televisão de Moçambique (TVM) e o matutino Notícias são conhecidos pela sua veia de desinformação. Há um esforço para se voltar a edificar uma sociedade monolítica, de pensamento comum do marxismo-leninismo, odiando a opinião contrária ou diferente, considerando-a, habitualmente, como “mão externa".
Embora tenhamos eleições periódicas, porém, são, de forma sistemática, violentas, fraudulentas e ganham através de enchimentos de urnas com votos falsos. O apoio da policia e a cumplicidade dos tribunais que fecham os olhos às violações à lei destroem todo o processo democrático. As eleições, que ocorrem no nosso país são uma grande farsa.
As eleições que se realizam, no país, não visam o povo fazer vingar a sua vontade, mas para ludibriar a comunidade internacional de que, em Moçambique, também, há democracia. Noutros quadrantes do mundo, as eleições visam dar chance ao povo para dizer se é bem governado ou não. Se não, seguem outros. As eleições que temos têm em vista perpetuar no poder um grupo de ladrões que se apodera do Estado para promover suas negociatas, lesando os interesses dos moçambicanos. Essa táctica ficou evidente na contratação das dívidas inconstitucionais que beneficiaram aos gatunos.
Os que conceberam as dívidas inconstitucionais continuam se considerando como os melhores para governarem o país. Os que jogaram o nosso país na sarjeta e entregaram os nossos recursos naturais às multinacionais ainda se acham como os predestinados para estarem à frente dos destinos do povo. Partidarizam os órgãos eleitorais, os tribunais e instrumentalizam a polícia para continuarem no poder. Se houvesse democracia, a Frelimo teria sido afastada do poder, por manifesta ineficiência e incapacidade. As sociedades democráticas regem-se por princípios de respeito à constituição e longe de nós a presunção de que estejamos a viver em democracia.
Em Estado de Direito, ninguém é perseguido nem morto por pensar diferente. Aqui, matam-se jornalistas, professores e analistas políticos por terem pensamento “perigoso". Parece que estamos na revolução cultural de Mao Tse Tung em que todos que produziam pensamento diferente eram silenciados. Até agora, o jornalista da Rádio Comunitária de Palma, Ibraimo Mbaruco está desaparecido, raptado por militares, a 07 de Abril. Ninguém fala deste assunto, nem o Chefe de Estado diz uma palavra. Informações de Cabo Delgado sugerem que Mbaruco está detido num posto militar, em Muidumbe, e a ser torturado todos os dias, acusado de desinformar o mundo sobre a situação de guerra que assola a província. A procuradora-geral da República contornou este assunto quando da sua ida ao parlamento, nos dias 20 e 21 de Maio.
A aparição da procuradora-geral da República na Assembleia da República demonstrou de que lado se posicionam os órgãos de justiça. Defendem não o Estado, mas a quadrilha que fez a contratação das dívidas ocultas. Não se entende quando diz que somente Moçambique, e mais nenhum país, tem a jurisdição para julgar os gatunos associados das dívidas ocultas, insistindo, por isso, que Manuel Chang seja devolvido ao país. É mentira. De que esteve à espera a Procuradoria-Geral da República para acusar a quadrilha das dívidas ocultas? Pela captura de Chang, na África do Sul? Todos diziam desconhecer a existência de alguma dívida oculta ou algo parecido com isso, incluindo o governador do Banco de Moçambique dizia desconhecer a existência de alguma dívida inconstitucional.
No Banco de Moçambique, nem mesmo os alarmes dispararam quando as contas dos espertinhos começaram a ficar gordas de noite para dia. Para cidadão comum tem que justificar qualquer depósito acima de 170 mil meticais, correndo o risco de ir parar na esquadra, se não souber falar latim. Para os ladrões da Frelimo, nada disso aconteceu. Os recolhidos à prisão no âmbito das dividas ocultas, serão libertos por exceder o tempo de prisão preventiva. Eles virão cuspir nas nossas caras. Isso vai, em breve, acontecer.
Estamos convencidos de que nenhum tribunal nacional pode julgar os implicados nas dívidas ocultas por haver gente graúda metida na bolada e a Frelimo, o governo e o judiciário dormem aconchegados, na mesma esteira. O povo tem que apostar em outras visões para mudar o seu destino.
A Frelimo compara-se a um calhambeque sem combustível nem bateria, por muito que se lhe “tchove", não vai pegar jamais.
Na Frelimo não há nenhuma seriedade. Na “libertação” dos dois empresários raptados - Rizwan Adatia e Manish Cantilal -, na Marola, semana passada, foi uma montagem de uma peça teatral. A chefe do SERNIC esteve de sapato de salto alto, bolsa de gingação e maquiada, pronta para entrevista de show off e os policias sem coletes prova de bala.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 26.05.2020