Deputado Marciano Indi, da APU-PDGB, foi sequestrado e, mais tarde, libertado na sexta-feira (22.05). PAIGC considera que tratou-se de tentativa de "amordaçar o exercício da cidadania guineense".
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) condenou o sequestro do deputado Marciano Indi e alertou a comunidade internacional para a derrapagem do ambiente de segurança no país.
Em nota, divulgada na sexta-feira (22.05), o partido refere que "repudia e condena com absoluta veemência este ato, que tem como fito amordaçar o exercício da cidadania guineense e o respeito da ordem constitucional na República da Guiné-Bissau".
O deputado Marciano Indi, da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), foi raptado na sexta-feira por um grupo de desconhecidos, mas acabou por ser libertado, depois da intervenção do presidente do parlamento nacional, Cipriano Cassamá.
No documento, o partido refere que há indicação "com fontes comprovadas" de o deputado ter sido raptado por homens à paisana "pertencentes ao corpo de segurança nacional com conhecimento e incentivo dos senhores Nuno Nabiam [primeiro-ministro] e Umaro Sissoco Embaló [Presidente da Guiné-Bissau], alegadamente por aquele deputado ter expressado opiniões que não eram do agrado deste último".
Esclarecer e responsabilizar
O PAIGC exige um esclarecimento "minucioso" e "pormenorizado" do rapto, bem como a responsabilização dos implicados, reservando-se "em consequência ao direito de suspender a sua participação de qualquer iniciativa de concertação em curso".
"Este atentado, pela sua natureza e gravidade, é um novo alerta ao conjunto da comunidade internacional, mas também às organizações da sociedade civil, para a fragilidade do momento político que se vive na Guiné-Bissau e o risco de derrapagem do ambiente securitário", adianta.
O PAIGC alerta que o ambiente pode "rapidamente resvalar para um total descalabro a favor da anarquia e do caos, caso a ordem constitucional não seja imediatamente reposta".
Críticas ao poder
Marciano Indi é conhecido pela sua posição de crítica feroz ao atual poder na Guiné-Bissau, nomeadamente o líder da APU-PDGB e primeiro-ministro, Nuno Nabiam, com quem se incompatibilizou de forma aberta.
Indi tem defendido a continuidade do seu partido no acordo de incidência parlamentar assinado com o PAIGC, em março passado, para desta forma criar uma maioria no parlamento.
Nabian, que assinou o acordo com o PAIGC, entretanto invalidou aquele compromisso, firmando outro com o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) e o Partido da Renovação Social (PRS).
Com base neste acordo, Nabiam reclama uma nova maioria parlamentar, mas sem o PAIGC.
Numa entrevista, na quinta-feira (21.05) à noite a um canal televisivo nas redes sociais, Marciano Indi voltou a colocar em causa a maioria reclamada por Nabian, defendendo que se o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, conceder o direito de governar "à pretensa nova maioria" estaria a cometer uma inconstitucionalidade.
LUSA – 23.05.2020