Movimentações militares continuavam hoje pela manhã em Macomia, principal localidade do centro da província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, disseram à Lusa duas fontes, depois da ocupação da vila por um grupo armado na quinta-feira.
Elementos armados foram avistados na vila ao mesmo tempo que membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas pareciam alagar o perímetro controlado naquela zona, referiu uma das fontes, com base no testemunho de hoje de residentes escondidos no mato.
Outra fonte relatou as mesmas movimentações, mas sem detalhes, e referiu que há falhas nas comunicações e no fornecimento de energia que se supõe estarem relacionadas com a destruição de infraestruturas.
Desde quinta-feira ficou difícil acompanhar a evolução da situação porque as comunicações por telemóvel são várias vezes cortadas.
Durante os contactos mantidos pela Lusa e por outras fontes, foi relatada uma fuga generalizada da população da vila para o mato e outros locais, a exemplo do que relatou o bispo de Pemba, capital da província de Cabo Delgado.
Luiz Lisboa, disse à Lusa na sexta-feira que os padres e outro pessoal da paróquia da Igreja Católica em Macomia deixaram a vila para locais seguros.
Uma fonte do Ministério da Defesa Nacional moçambicano disse à Lusa que a situação em Macomia estava a ser analisada pelo comando conjunto das FDS, que é dirigido pelo Ministério do Interior, mas até agora ainda não foi prestada nenhuma informação pelas autoridades.
A vila de Macomia é o principal ponto de encontro a meio da estrada asfaltada que liga o norte ao sul da província, tem uma agência bancária, vários serviços, estabelecimentos comerciais e é sede de um distrito com cerca de 100 mil habitantes.
Está situada a cerca de 200 quilómetros da capital provincial, Pemba.
Macomia foi há um ano a zona urbana mais atingida pelo ciclone Kenneth, um dos mais graves de sempre a atingir Moçambique, em abril de 2019, matando 45 pessoas no Norte do país.
Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataques de grupos armados rebeldes desde outubro de 2017, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Desde há um ano o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico passou a reivindicar alguns dos ataques.
Em dois anos e meio de conflito estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 550 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.
O Governo moçambicano tem relatado algumas respostas pelas FDS contra os grupos armados, reiterando que está a reprimir a violência, mas a invasão e ocupação de povoações têm-se intensificado desde o início do ano.
LUSA – 30.05.2020