Pelo menos nós, “Justiça Nacional”, gostamos de viver neste País. É o melhor do mundo. Os roteiros cinematográficos confundem-se com a vida real. Nenhum roteirista de Hollywood era capaz de escrever, com precisão, o resgate ontem do empresário Manish Cantilal. Se fosse um filme e indicado para o Oscar, de certeza que ganhava em todas as categorias.
Quer dizer: temos uma Polícia que sai em resgate de um raptado. Antes de o fazer, envia um comunicado à toda imprensa para participar da “festa”. E lá vai a Polícia seguida de jornalistas. Entra no cativeiro e resgata o raptado. Nunca receou que eventualmente pudesse haver troca de tiros. A directora provincial do SERNIC até lidera as operações de resgate de saia, sapato de salto alto e bolsa. Depois dá o briefing aos jornalistas que, também, parecem fazer parte da coreografia. Não perguntam porquê o ambiente está todo preparado que até parece uma festa preparada com munúcia, ao mínimo detalhe.
Talvez nós é que estamos equivocados. Nós pressupunhamos que um resgate equivale perigo. Há que provavelmente encontrar os raptores de AKM47 em riste. A Polícia tem que vestir coletes prova de bala, estar armada até aos dentes e jamais ter jornalistas a tiracolo. Os civis também fazem parte da equipa do resgate? Não é assim com o SWAT para quem gosta de assistir filmes? Aqui o resgate é moleza. É como descascar amendoim toradoro. Resgatar alguém sabe bem. Até os agentes devem disputar quando se selecciona a equipa que irá resgatar alguém. É como ir à farra.
A senhora do SERNIC até teve tempo de pintar os lábios com batom para sair bonita na televisão. Escolheu a melhor bolsa e sapatos altos. Para ir ao terreno? E nenhum raptor estava lá. Só estava o Manish. Quem os avisou? Afinal quem são esses raptores? Manish disse à imprensa qiue durante o seu tempo de cativeiro, 91 dias, os raptores lhe disseram que era gente graúda do Governo. Talvez explique-se o resgate com pompa e circunstância. A farra!
A boa é que Manish já está em casa. Os pormenores que rodearam o seu rapto nunca conhecerão a luz do dia. Outro resgatado no mesmo dia é o empresário e filántropo, Rizwan Adatia, que esteve 21 dias fechado num cativeiro no bairro de Mulotane, distrito de Boane, a 43 quilómetros do centro de Maputo.
Viva a nossa Polícia!
