O grupo de insurgentes que atacou e ocupou a sede de Macomia, na quinta-feira, 28, deixou a vila na noite deste sábado, 30, após controlar por três dias o principal centro urbano da região centro e norte de Cabo Delegado, deixando um rasto de destruição.
Relatos da população descrevem um cenário de guerra e destruição de infraestruturas publicas e comércio, além da “paralisação total” da vida dos moradores durante o período de ocupação do grupo de jovens jihadistas, localmente conhecidos por al-shaabab.
“Hoje (domingo) de manhã as pessoas começaram a ir espreitar a vila. Esta tudo destruído”, contou à VOA um morador que se identificou por Salimo, descrevendo um misto de “choros e silêncio assustador” nos bairros.
Um outro morador, que junto com Salimo, procurava por familiares de que se separaram durante a fuga na quinta-feira, conta que alguns lugares da vila estão “irreconhecíveis”.
“O mercado principal está todo destruído, reduzido a cinzas. Tem muitas casas com perfurações de balas”, disse o morador, acrescentando que “não sabemos se há pessoas que morreram dentro destas casas”.
Até ao principio da tarde deste domingo continuava a haver pouca informação para avaliar os estragos da invasão a vila sede de Macomia, o principal centro urbano onde corta a estrada asfaltada que liga aos distritos mais a norte de Cabo Delegado e a vizinha Republica da Tanzânia.
Na sexta-feira, segundo várias fontes locais, os insurgentes teriam saqueado a agência bancária do BCI e sabotado as torres de telecomunicações e a subestação de Macomia, deixando sem comunicação e as escuras os distritos mais a norte de Cabo Delegado.
Entretanto, 35 crianças, de diferentes famílias, que fugiram dos ataques a vila de Macomia, chegaram a Pemba neste sábado e foram acolhidas numa escola do bairro Cariacó, nos arredores da baia.
Segundo relatam as crianças, que fugiram da invasão dos insurgentes, caminharam a pé durante dois dias pela mata até chegar a aldeia de Mitambo.
Desta aldeia voltaram a caminhar pela estrada até a aldeia Moja, quando foram socorridos por um condutor duma camionete para Pemba.
Um morador do bairro Cariacó, que avistou as crianças na manhã deste domingo, contou à VOA, que as crianças estavam “visivelmente traumatizadas” e que relataram terem visto um numero muito maior de insurgentes durante a invasão.
As autoridades estão a trabalhar na identificação das crianças, para posterior reencaminhamento das famílias.
As autoridades de Maputo, que combatem o grupo, descrito como parte do Estado Islâmico, ainda não se pronunciaram sobre o ataque.
VOA – 31.05.2020
NOTA: Como é possível os insurgentes ocuparem a vila de Macomia durante 72 horas( 3 dias) ? Há algo que não está correcto com as FDS. Que será? Durante os dez anos da "luta de libertação", nunca, mas nunca, a Frelimo ocupou um só aldeamento durante minutos. Que se passa?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE