O pesquisador Eric Morier-Genoud disse nesta quinta-feira que os grupos responsáveis pelos ataques em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, surgiram em 2007, 10 anos antes do primeiro ataque em outubro de 2017.
"[Este grupo] é velho, e começou em 2007 como uma seita islâmica que queria ter um governo muçulmano. Quando isso não funcionou, a partir de 2015, eles mudaram para um movimento armado 'jihad'", disse Eric Morier-Genoud, da Universidade da Rainha, em Belfast, durante um webinar sobre as dimensões internas e externas dos ataques armados no norte de Moçambique.
O acadêmico os chama de "insurgentes", dizendo que são contra um Estado laico estabelecido, e não fazem parte do autoproclamado movimento terrorista estado islâmico (Daesh, na sigla árabe), que já reivindicou várias vezes ações em Cabo Delgado.
"A seita existia antes do gás e rubis [serem descobertos], e antes da existência do Estado Islâmico", disse Morier-Genoud, negando que os ataques sejam uma consequência da descoberta dos recursos naturais. Os recursos naturais, no entanto, mudaram o contexto em que a seita evoluiu, até quando se tornou uma revolta armada, explicou.
"A pobreza provavelmente facilitou a criação de uma guerra, o gás foi um argumento, e o Daesh está criando uma rede internacional de legitimação e publicidade que serve aos insurgentes", diz Morier-Genoud.
Falar agora, explicou, é do Estado Islâmico e da insurreição religiosa, e embora não possa ser reduzido a isso, é um ponto de partida. Cabo Delgado abriga o maior projeto de investimento privado da África, para extrair gás natural, que está avançando apesar de a província ser alvo, desde outubro de 2017, de ataques de insurgentes classificados por autoridades moçambicanas e internacionais, desde o início do ano, como um grupo terrorista
Estima-se que os dois anos e meio de conflito na província tenham ceifado pelo menos 600 vidas e deslocado cerca de 200.000 mais.
LUSA – 22.06.2020