Em Sofala, centro de Moçambique, homens armados da RENAMO recém-desmobilizados regressaram das matas após 30 anos, mas vivem com medo nas suas zonas de origem. Oposição apela à confiança no acordo de desmobilização.
Os antigos combatentes do maior partido da oposição são oriundos das regiões onde atualmente se registam confrontos entre as tropas governamentais e homens da autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), liderada por Mariano Nhongo - um grupo dissidente da guerrilha.
Bernardo João é um guerrilheiro recém-desmobilizado da base de Savane, na província de Sofala. Regressou a sua casa em Macorococho, a 13 de junho. Conta que o clima vivido na região onde mora há vários anos é de insegurança. Apesar de não ter sido alvo de ataques, João tem histórias para contar.
"Só estou a ouvir em boatos. Dizem para eu ficar atento porque os homens estão a andar e são capazes de me encontrar agora que estou na minha casa”, relata.
O ex-combatente não nega que esteja intimidado com a situação. "Hoje, na minha vinda pelo caminho, fui informado que outra vez outros três irmãos ali foram apanhados, outros foram mortos e outros não sabemos onde estão”, conta.
Medidas de segurança
Por isso, Bernardo João já está a tomar algumas medidas de segurança. Diz que esconde os documentos de identificação, incluindo o cartão de desmobilizado, e depois dorme nas matas, porque tem medo de ser raptado.
"Tenho que estar com medo, porque uma pessoa que é conhecida tem que estar assustada. Não levo os meus documentos, deixo-os escondidos e eu durmo no mato, não durmo dentro da casa”.
"Estou a ter medo com esta informação que estamos a ouvir, que estão a andar [com] os desmobilizados da RENAMO”, afirmou o recém-desmobilizado.
A delegada distrital da RENAMO em Nhamatanda, Albertina Sibanda, esteve reunida na semana passada com a maioria dos desmobilizados. No encontro foram apresentadas várias queixas. "Muitos estão a viver num ambiente de medo. No caso de Macorococho, Chiadeia, estes que vão para dentro e dormem no mato chegaram lá e não apanharam os colegas que são os delegados das localidades para os receber”, explicou a delegada distrital.
Albertina Sibanda admitiu que "a situação não está bem ao nível do distrito” e que "as forças armdas de defesa e segurança estão lá ainda no terreno a intimidar as pessoas”.
Resgate da confiança
O grupo dissidente da RENAMO está a perder efetivo para a sua investida armada. Discute-se em Moçambique se o grupo armado de Nhongo pode comprometer o acordo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, lamenta a ocorrência destes episódios e apela ao resgate da confiança entre o Governo e a RENAMO. Simango pede que a sociedade civil seja incluída neste tema.
"Isto é resultado de discussões fechadas e a dois. Não há comunicação com a sociedade, não há monitoria por parte dos cidadãos. A cidadania das pessoas é retirada”.
Perante esta situação, a secretária de Estado na província de Sofala, Stella Zeca, apelou ao espírito de convivência multipartidária.
A DW pediu esclarecimentos junto das autoridades policiais que se recusaram a falar, alegando não terem conhecimento destas ações.
DW – 30.06.2020